Este artigo propôs-se a examinar algumas unidades lexicais do léxico rosiano de Grande Sertão: Veredas, considerando os parâmetros da mais recente pesquisa teórica de Maria Aparecida Barbosa, a
Etnoterminologia. Estamos nos referindo à instigante dinâmica linguística que revela representações acerca dos fatos, concepções e visões de mundo, convenções culturais, tradições, crenças, formas de perceber, sentir, pensar e simbolizar a realidade: o discurso etnoliterário materializado no conteúdo conceptual e semântico atualizado por Guimarães Rosa, com sua reconhecida e rigorosa precisão, conteúdos esses que são desvelados nos traços específicos ou nos conceitos de cada unidade lexical, inventada ou reinventada em sua obra.
Propomos que o estudo da unidade padrão do discurso literário etnoterminológico, o vocábulo-termo, é de fundamental importância na análise contrastiva de línguas e culturas, no âmbito dos estudos da tradução. Os conceitos que resultam do processo de conceptualização se revestem de especificidades semântico-conceptuais, identificando o universo linguístico e referencial de uma dada língua de partida, caracterizando sua realidade, muitas vezes intransponível para o tradutor. O pesquisador em tradução poderá, a partir da análise dos semas formadores, identificar, no universo de discurso da língua de chegada e partida, a percepção da realidade e a atribuição de valor (pela análise dos subconjuntos dos traços ideológicos-culturais e ideológico-intencionais modalizadores), se os conceitos foram conservados, reduzidos ou ampliados quando da sua ressemantização na língua de chegada.