O presente artigo analisa o conto "A menina de lá", do livro Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa, no rastro da experiência da ordem do aberto, do indefinível e inominável que o locativo "lá" configura na narrativa. O conceito de "desrazão", conforme tomado de Foucault e Blanchot por Peter Pál Pelbart, norteia o percurso de análise, no qual a imagem da criança protagonista, construída no signo da ausência, silêncio e imobilidade, tensiona as ambiguidades de carência e plenitude, loucura e santidade, normalidade e anormalidade, silêncio e Verbo Criador, desdobrando a imagem de infans em sua anterioridade em relação à fala/simbolização, à aculturação, ao utilitarismo, em um "lugar de existência" cujas dimensões podem ser psíquicas ou metafísicas. Na trama do enredo e construção da personagem se deslinda uma rede de sentidos e imagens que obrigam o leitor a habitar, também, o vazio, o aberto, a anterioridade... o lá.
Este ensaio tem o objetivo de refletir sobre a moira, destino ligado à matriz grega, em interface com as viagens e com a violência do sertão a partir do conto “Duelo”, quarta narrativa do livro Sagarana, de Guimarães Rosa. Trata-se de uma espécie de aclimatação do destino antigo à vivência do sujeito sertanejo, sobretudo no espaço de perseguição, de morte e de instabilidade nos gerais. Assim, esta reflexão em torno do conto do autor mineiro faz-se na leitura que instala a paisagem do sertão ao plano universalista da tradição grega: o destino.