Este trabalho tem por objetivo perscrutar as possibilidades de diálogo entre o
conto A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, e elementos pertencentes
aos universos da tragédia grega e do cristianismo. Ao deitar olhos sobre a jornada
percorrida pelo protagonista do conto, percebemos que os dois universos parecem se
entrelaçar, permitindo-nos ora uma associação a termos como hybris e Destino, caros ao
universo da tragédia, ora às histórias dos santos e mártires cristãos. Dessa forma,
buscando suporte em textos que tratam dos dois universos, procuraremos associar a
eles, sempre que possível, as errâncias de Matraga rumo à redenção.
A partir da descrição da estrutura de Tutaméia (1967), de Guimarães Rosa,
este artigo se propõe a analisar Curtamão, sétima narrativa do livro. A fortuna crítica
sobre o conto tem ressaltado principalmente o uso de metalinguagem e a tematização da
natureza sagrada da literatura. Enfatizamos sobretudo esse segundo aspecto ao
explicitar a simbologia religiosa empregada. Observamos também traços de
modernidade, tanto estética quanto social, compatíveis com a ambiguidade do conto e da
produção rosiana em geral: não se opõe à História tampouco se prende a ela.