No ano em que se comemora o cinquentenário de morte do escritor Guimarães Rosa, o presente artigo objetiva discutir de que modo a questão do sagrado se faz presente na coletânea de contos que compõe a obra Sagarana, do escritor mineiro. A proposta de leitura que aqui se apresenta será feita tendo por princípio a noção de sagrado que é defendida pelo poeta e teórico mexicano, Octavio Paz, que vê o sagrado e a poesia como exemplos de revelação poética. O livro Sagarana, primeira publicação literária de Guimarães Rosa, é composto por nove contos, no entanto, neste artigo se pretende dialogar com apenas três narrativas, por acreditar que uma leitura de todos os contos exige um trabalho de maior extensão e fôlego que requer algo além dos limites de um artigo. As narrativas objetos de interlocução aqui, portanto, são: A hora e vez de Augusto Matraga, São Marcos e Corpo fechado.
A partir da descrição da estrutura de Tutaméia (1967), de Guimarães Rosa,
este artigo se propõe a analisar Curtamão, sétima narrativa do livro. A fortuna crítica
sobre o conto tem ressaltado principalmente o uso de metalinguagem e a tematização da
natureza sagrada da literatura. Enfatizamos sobretudo esse segundo aspecto ao
explicitar a simbologia religiosa empregada. Observamos também traços de
modernidade, tanto estética quanto social, compatíveis com a ambiguidade do conto e da
produção rosiana em geral: não se opõe à História tampouco se prende a ela.