O presente texto visa desenvolver uma análise da novela “Uma estória de amor:
festa de Manuelzão”, de João Guimarães Rosa, publicado originalmente em 1964. A análise
tem o objetivo de evidenciar a representação feita por João Guimarães Rosa do processo de
formação do espaço urbano, no interior de Minas Gerais. Para a análise, utilizam-se os
pressupostos metodológicos da Literatura Comparada entre o texto sociológico e
historiográfico de Sérgio Buarque de Holanda: “Raízes do Brasil” e a narrativa de Manuelzão,
onde o processo de ocupação da Samarra remete-nos à narrativa historiográfica e sociológica
de ocupação do interior do país presente em “Raízes do Brasil”. Acredita-se que a abordagem
possibilitou pôr em evidência como a literatura rosiana fornece um modelo para o
entendimento dos alicerces sobre os quais se desenvolve a sociedade brasileira, razão pelo
qual o escritor é considerado neste trabalho como um intérprete do Brasil.
A discussão que, ora, apresentamos, diz respeito à investigação de cunho
intercultural que perpassa o literário e o linguístico, cujo enfoque é propor um olhar analítico
sobre o trabalho de invenção fictícia do escritor João Guimarães Rosa no conto A terceira
margem do rio, publicado no livro Primeiras estórias. Trata-se de estudo concentrado nesse
conto a respeito das relações linguísticas, literárias e ecológicas imersas no seguinte
questionamento: Como Guimarães Rosa inventa através da arte da palavra, um discurso que
toma elementos da ecologia (meio ambiente) para suscitar metaforicamente uma pungente
significação de literatura, em suas condições de possibilidade? Nesse liame, discutiremos a
noção de fictio, discurso literário e o signo ecológico que nesse conto se instaura a partir de
uma terceira margem: lugar não-lugar que entre as duas bandas do rio virtualiza o discurso
da própria literatura.