A partir da análise de um fragmento do relato de viagens Três mil milhas através do Brasil, de James W. Wells, e de reflexões em torno do romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, discute-se a fragilidade das formas e normas legitimadas pela modernidade.
Os conceitos “mímica” (Bhabha), “suplemento” (Derrida) e “carnavalização” (Bakhtin) norteiam a análise de Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, com o sentido de discutir as relações de força
articuladas no romance no momento em que a escrita desse livro tem de se medir direta ou indiretamente com questões da ordem do poder.
O presente texto visa desenvolver uma análise da novela “Uma estória de amor:
festa de Manuelzão”, de João Guimarães Rosa, publicado originalmente em 1964. A análise
tem o objetivo de evidenciar a representação feita por João Guimarães Rosa do processo de
formação do espaço urbano, no interior de Minas Gerais. Para a análise, utilizam-se os
pressupostos metodológicos da Literatura Comparada entre o texto sociológico e
historiográfico de Sérgio Buarque de Holanda: “Raízes do Brasil” e a narrativa de Manuelzão,
onde o processo de ocupação da Samarra remete-nos à narrativa historiográfica e sociológica
de ocupação do interior do país presente em “Raízes do Brasil”. Acredita-se que a abordagem
possibilitou pôr em evidência como a literatura rosiana fornece um modelo para o
entendimento dos alicerces sobre os quais se desenvolve a sociedade brasileira, razão pelo
qual o escritor é considerado neste trabalho como um intérprete do Brasil.
Neste artigo, intentou-se evidenciar nas narrativas Grande Sertão: veredas e “Famigerado”, escritas por João Guimarães Rosa, elementos da discussão sociológica realizada em Raízes do Brasil de forma a contribuir para ilustração do conceito de cordialidade conforme desenvolvido por SBH. Argumenta-se que, ao representar o encontro entre os personagens principais com o “doutor” ilustrado, Rosa ilumina os conceitos de cordialidade e civilidade, compreendidos em Raízes do Brasil.
Neste artigo examina-se a narrativa “A Benfazeja”, do livro Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa investigando a sua contribuição para ilustrar aspectos pouco investigados acerca do conceito de cordialidade presente em Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda. Soma-se a essa análise uma leitura acerca das relações de poder elaboradas na narrativa que permitem verificar uma ruptura com a representação dos ideais da família patriarcal engendrada pelo soterramento do modelo ideal, banimento do poder masculino e descaracterização do papel idealizado da mulher. Nota-se, por fim, como a negação da subjetividade feminina, por parte do patriarcado, está ainda presente na estrutura social brasileira e tem alimentado comportamentos misóginos. Por tais razões considera-se que a narrativa consiste em metáfora das relações de poder entre democracia e patriarcado estabelecidas ainda hoje na sociedade e na democracia brasileira.
Esta dissertação visa a realizar uma leitura do romance Grande Sertão: Veredas (1956), escrito por João Guimarães Rosa (1908-1967), à luz dos conceitos: mímica (H. K. Bhabha), suplemento (J. Derrida) e carnavalização (M. M. Bakhtin). Nessa discussão, os três conceitos norteiam a lógica argumentativa da análise do romance com o sentido de discutir as relações de força articuladas na escrita literária no momento em que esta tem de se medir direta ou indiretamente com questões da ordem do poder. Além dos três conceitos em questão, apontamentos em torno de temas como dialogismo, autoridade, tradução cultural, literatura de viagem, história oficial, historiografia literária brasileira, estranhamento, subalternidade, hegemonia, ambivalência e zona cinzenta, permitem argumentar que ao representar uma outra face da história do sertão mineiro - que no universo extraliterário apresenta-se silenciosa, apócrifa e proscrita - a narrativa opera um aproveitamento de elementos dessa história e local de cultura.
O objeto de estudo desta tese são algumas das narrativas elaboradas por João Guimarães Rosa e compiladas nos livros: Sagarana, Primeiras Estórias, Estas estórias, Ave, palavra, Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas. A análise deste corpus tem a finalidade de verificar até que ponto essas narrativas ajudam a repensar o conceito de homem cordial presente no pensamento sociológico brasileiro, tendo em vista, sobretudo o desenvolvimento deste conceito no ensaio Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda (doravante SBH). Dada a inscrição dessas narrativas entre o sertão arcaico e a fundação do ambiente urbano brasileiro, mesmo panorama discutido por SBH, a partir da argumentação desenvolvida, concluiu-se que há um reaproveitamento estético de algumas das principais discussões desenvolvidas por SBH, sobre as raízes da sociedade brasileira. Acredita-se que tal reaproveitamento estético permite que a cordialidade ressoe no corpus analisado, o que nos leva a forjar aqui o qualificativo de poética da cordialidade para as narrativas produzidas por JGR e a enxergar no perfil biográfico desse autor um intérprete do Brasil.