Este trabalho analisa três estudos da fortuna crítica de Guimarães Rosa que tratam da temática
da infância, verificando os principais aspectos de cada uma das pesquisas ao tratar de um tema
comum. Foram lidos e analisados os textos “O motivo infantil na obra de Guimarães Rosa”
(1966), de Henriqueta Lisboa; “A trajetória do menino nas estórias de Guimarães Rosa” (1988),
de Vânia Maria Resende; e “O infantil na escrita de Guimarães Rosa – uma leitura de “As
margens da alegria” e “Os Cimos”’ (1998), de Ana Maria Clark Peres. Sem sobrepor um texto
ao outro, identificamos a abordagem de cada pesquisa sobre a infância em Guimarães Rosa. A
esses três textos, escritos em diferentes décadas, acrescentamos uma nova pesquisa com o
assunto recorrente, buscando confirmar a inquietação dos leitores rosianos em desvendar a
criança e a infância inauguradas em suas obras. Para analisar a infância na obra rosiana,
selecionamos, do livro Corpo de baile (1956), a novela “Campo Geral”, considerada, por
Guimarães Rosa, o próprio germe da infância. Utilizando, como principal fonte, passagens do
livro, procuramos entender o espaço infantil, a personagem Miguilim e identificamos passagens
comuns entre as infâncias da personagem principal, Miguilim, e de seu autor, João Guimarães
Rosa. O objetivo deste estudo, ao percorrer as pistas dos caminhos trilhados pelos críticos de
Guimarães Rosa, foi descobrir as diferentes abordagens realizadas e continuar este trajeto,
permanente e inesgotável, da pesquisa da infância rosiana. A partir de uma leitura dos aspectos
histórico-filosóficos relacionados à criança e à infância, observamos que Guimarães Rosa
elabora mais que personagens infantis, ele constrói um espaço literário para a vivência da
infância, onde podem habitar harmoniosamente todas as idades, constatamos ainda que, mesmo
meio século após o nascimento, a criança rosiana sobrevive, esperando outras leituras e novas
travessias.
Neste estudo, buscamos fazer uma leitura analítica (hermenêutica) e
fenomenológica heideggeriana da obra Grande Sertão: Veredas, romance de
Guimarães Rosa, publicado em 1956. Buscando um diálogo entre a literatura e a
filosofia, focalizamos a relação entre tempo e memória configurada na obra. No
romance de Rosa, a experiência temporal humana é apresentada pela rememoração
de Riobaldo, o narrador-protagonista. Assim, este trabalho tem como proposta
compreender o “sertão” de Riobaldo, um sertão que corresponde ao desvelamento
da condição humana, observando-o como espaço existencial de construção da
linguagem, na medida em que o narrar se revela como rememoração que busca o
sentido do ser através da ontologia existencial. A linguagem não é apenas um
instrumento de comunicação, mas é a casa do Ser, a morada do homem; a única
capaz de resgatar o homem do esquecimento do seu Ser. Acreditamos que o
romance rosiano seja uma grande experiência de linguagem que busca destacar
essas questões fundamentais da existência, figuradas na construção da personagem
Riobaldo, construída em um jogo de ocultamento/desocultamento a fim de revelar
um homem humano, como uma travessia por meio da palavra. Para tanto, tomamos
como aporte teórico fundamental, além da obra de Heidegger, os trabalhos de
NUNES (2003; 2013), SANTIAGO (2017), LACOSTE (1986), GALVÃO (2000), entre
outros que farão este diálogo entre literatura e filosofia.