Escola de Formação de Professores e Humanidade::Curso de Teologia. Programa de Pós-Graduação STRICTO SENSU em Ciências da Religião
Esta tese analisa o testemunho do Sagrado na obra literária de João Guimarães Rosa (1908-1967), especificamente, o conto Chronos kai Anagké (1930) e, o seu único romance, Grande Sertão: Veredas (1956). Esta pesquisa tem como eixo método-epistemológico básico a transdisciplinaridade entre o conceito de Sagrado nas Ciências da Religião em Rudolf Otto e Mircea Eliade, o conceito de Narratologia Literária em Paul Ricoeur e a Teoria do Testemunho de Márcio Selligmann para uma leitura do sagrado na literatura de Guimarães Rosa. Discute-se a relação teórica entre Literatura e Sagrado, os Vestígios do Sagrado na Literatura, as Geograficidades do Sagrado no romance roseano, e a obra de arte literária como possibilidade de interpretação sócio-cultural. Demonstraremos que a narratologia roseana apresenta um acervo, registro e interpretação de um imaginário sobre Deus,
o Demo e o homem humano no sagrado brasileiro, apresentaremos João Guimarães Rosa como um intérprete do Sagrado, não apenas na Literatura, mas também na Cultura Brasileira.
O enigmático fenômeno da criação literária de João Guimarães Rosa surpreende e fascina a críticos e leitores, a princípio pela vasta rede de recursos linguísticos que sua escrita engendra, entretanto na medida que adentram o espaço poético roseano são arremessados a uma dimensão de pura incerteza e magia, na qual o extraordinário lirismo do autor toma a palavra e anuncia seu dito pleno, original e arrebatador. Ave, Palavra recria o mundo por meio de uma poesia sóbria, todavia essencial, decantada de uma linguagem vigorosa e enérgica que nunca se cansa de assombrar por sua natureza rebelde e obscura. Este trabalho visa explorar o complexo sistema percorrido pela linguagem literária mencionada por Michel Foucault, a qual comanda os fluxos poéticos de Rosa em Ave, Palavra, por meio da análise de certos procedimentos de criação linguística e elaboração estilística presentes em toda sua composição; destina-se também a investigar o lirismo que mana do verbo essencial nesse espaço áspero e árido, o qual se dobra sobre si mesmo, ocultando as várias faces da palavra complexa e a insólita intenção da escrita roseana de reverenciar a arte poética, visto que Ave, Palavra comporta uma ação lírica articulada no espaço soberano da obra: aquele descrito por Maurice Blanchot, em que transcende e converte toda a superficialidade do mundo exterior em um dito incessante, inesgotável e avassalador.
Programa de Pós-Graduação STRICTO SENSU em Ciências da Religião
Esta dissertação de Mestrado buscou analisar e investigar a personificação do mal em Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa partindo de que a religiosidade na obra está presente na literatura brasileira, sendo relevante em todas as épocas, porque diz respeito à cultura popular do povo, com traços regionais do sertão. Abordando algumas formas de como a sociedade elabora seu imaginário acerca da figura do demônio, a figura do diabo regula muitas vezes a forma de agir e pensar
das pessoas de acordo com a cultura local em que estão inseridos, neste caso o sertão. A pesquisa da obra Grande Sertão: Veredas contribui para fazer um levantamento das situações específicas da personificação do mal e seus principais traços de cultura estabelecida por pessoas que viviam em uma determinada região. A análise em seu contexto sócio-histórico e cultural torna relevante observar e
compreender a interconexão e interrelação dessas situações do regionalismo cultural e as relações do fenômeno religioso. Para o campo acadêmico isso significa aprofundar os conhecimentos sobre o fenômeno religioso em relação aos conceitos de literatura presente na obra Grande Sertão: Veredas. O texto Grande Sertão: Veredas contém narrativas que refletem realidades da existência de Deus e do
demônio vividas na cultura do povo sertanejo. Aqui poderá ser visto o imaginário popular na figura do demônio, muito presente na cultura popular religiosa e na obra de Guimarães Rosa. Com base nestes princípios, pretende-se abordar o problema da existência do diabo, levantado pelo próprio narrador e protagonista, o jagunço Riobaldo. O diabo aparece, ao longo da obra, sob diversas metáforas ou imagens populares envolvendo o bem e o mal, o amor e o ódio, sobretudo, ditos e nomes populares sobre o demônio e crenças da religiosidade presente no sertão.
O objetivo desta dissertação é analisar a obra romanesca de João Guimarão Rosa, Grande Sertão: Veredas, numa perspectiva estética. Essa abordagem se dá pela dimensao pluri e complexa da obra, sendo ela uma fonte inesgotável de análise. Um dos aspectos fundamentais a ser investigado em Grande Sertão: Veredas é a plurifacialização da linguagem que se dá na abstração e no jogo da criação. De modo sistemático e investigativo, serão apontadas algumas possibilidades de análise das manifestações plurais da linguagem em seu processo de reconstrução e reinvenção. Sob vários aspectos, a linguagem é objeto de estudo para a compreensão de si e do mundo. Neste sentido, as análises, tanto filosóficas quanto linguísticas, são importantes para estudar um projeto experimental de criação como esse em Grande Sertão: Veredas. Por se tratar de uma linguagem criativa e viva, torna-se difícil tirar conclusões sobre ela, isto seria matá-la. Assim, para estudá-la é melhor seguir correntes críticas contemporâneas, nas quais a língua é intuída em seu poder vivo e dinâmico de criação. Por suas variadas possibilidades significativas e inúmeras inovações semânticas em Grande Sertão: Veredas, as palavras não desgastam com o tempo, mas ressignificam-se a cada nova leitura. O leitor se torna sujeito da significação, ao estabelecer novas elaborações semânticas, instauradoras de muitas veredas de sentido, de um sentido que nunca conclui, pois o sertão, no presente caso, é múltiplo e aberto, ensejador dos mais díspares significados metafísicos que acabam angustiando o ser em face dos desafios, advindos do mundo em geral e de seu próprio mundo.