Guimarães Rosa e sua obra já fazem parte do cânone literário brasileiro, inclusive por sua
inovação linguística. A crítica literária considera o autor, e consequentemente sua produção
literária, como integrante dos romances ditos regionalistas, justamente pela temática voltada
para o interior do país. Contudo, sabemos que o termo "regionalismo" serve para diminuir o
valor literário de obras que não fazem parte do "centro" do Brasil, dominado pela elite
literária carioca e paulista. Por esse motivo, Grande Sertão: Veredas será retratada a partir de
outro enfoque, resgatando novos elementos que a compõem e a tornam um cânone literário,
sem o rótulo de “regionalista”. Serão utilizadas a teoria do Perspectivismo Ameríndio, do
antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, que nos ajudará a entender um pouco sobre a cultura
indígena, iluminando o modo de pensar não ocidental; o conceito de performance de Paul
Zumthor, visto que Riobaldo se distingue de outros narradores tradicionais do gênero; outras
fontes como a biografia de Guimarães Rosa e, ainda, alguns textos publicados pelo autor
servirão de base para a proposta aqui presente.
Em 1947, uma expedição organizada pela Universidade do Brasil (UB), no Rio de Janeiro, rumou para Mato Grosso e percorreu Campo Grande, Corumbá, Nhecolândia e o Pantanal Mato-Grossense. O grupo foi composto por estudantes da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, coordenados pelo professor Hilgard O’Reilly Sternberg, e estudantes do Instituto Rio Branco, liderados pelo diplomata, professor e escritor João Guimarães Rosa. Informações sobre esta expedição pouco aparecem nos registros de literatura e arte, constando apenas em passagens vagas e incompletas sobre o período na bibliografia de Rosa. A história desta expedição será brevemente apresentada com base numa investigação (ainda em processo) em arquivos públicos e privados. Uma reflexão baseada no discurso de posse de Rosa na Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, abordará a sua relação com a poesia e a geografia. O texto “Sanga Puytã” (1947), do autor, será explorado em um exercício para compor um esboço da paisagem da expedição. O artigo se encerra com a argumentação sobre o uso da linguagem verbo-visual e de ferramentas para compor a história da expedição de1947 ao Pantanal.
Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas, São José do Rio Preto
A partir de um conceito que chamamos de etnografia literária, procuramos demonstrar como o sujeito-escritor Guimarães Rosa, voltado para a antropologia, em especial, a etnografia, constrói-se ao longo de materiais como notas de viagem, cartas, anotações de diário e reportagens poéticas; em seguida, demonstramos como essa construção contamina os narradores posteriores de sua literatura. Nesta etnografia literária, consideramos o narrador como um etnógrafo construído a partir da viagem, da observação que valoriza a sinestesia e da empatia para com os personagens, o outro. Esta empatia pode ser vista através da fala direta ou do discurso indireto livre, essenciais à etnografia literária, pois representam o acesso à alteridade. Demostramos como noções de etnografia estão presentes nas narrativas de Ave, Palavra, “Sanga Puytã”, “Cipango”, “Uns índios – sua fala”, “Ao Pantanal” e “Pé-duro, chapéu-de-couro” como também “Entremeio: com o vaqueiro Mariano”, de Estas Estórias e “O recado do morro” e “Uma estória de amor”, de Corpo de Baile. Recolhemos no diário de viagem do escritor, A Boiada, tal visão etnográfica que dialoga com os demais textos lidos na tese.
Esta pesquisa investiga as aproximações do escritor João Guimarães Rosa (1908-1967) do jornalismo. O ponto de partida é a expressiva colaboração do autor de Grande sertão: veredas (1956) para 18 veículos de comunicação, entre jornais e revistas, no período de 1947 e 1967, resultando em 135 publicações – uma média de 6,7 publicações por ano. A maioria dos textos foi digitalizada e está disponível para na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (BNB). O escritor valorizava e reconhecia a importância da mídia, inclusive como canais reconhecidos de divulgação de suas obras. Rosa recorria aos amigos influentes na mídia quando se fizesse necessário e quando lhe aprouvesse. Detalhamos os laços do escritor com críticos, editorialistas e escritores jornalistas influentes na imprensa, especificamente: Franklin se Oliveira (1916-2000), Álvaro de Barros Lins (1912-1970), Josué Montello (1917-2006), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), João Neves da Fontoura (1889 – 1963), Otto Lara Resende (1922-1992), João Condé (1912-1996) e José Condé (1917-1971) e Assis Chateaubriand (1892-1968). Relacionamos 13 entrevistas que ele concedeu a jornais, revistas e emissoras de televisão, consideradas as que até hoje se tem conhecimento. Ele evitava entrevistas, mas cedeu a profissionais que, sabidamente, travariam com ele um diálogo de alto nível sobre literatura, e a estudantes. Por fim, demonstramos que Guimarães Rosa, em situações específicas, investiu-se do papel de repórter para compor, no formato de reportagem, algumas das histórias que se propôs a narrar: em especial, em ―Com o vaqueiro Mariano‖ e ―Sanga Puytã, ambas originárias da viagem ao Pantanal em 1947.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS / TEORIA LITERÁRIA E ESTUDOS COMPARADOS
Esta dissertação tem por finalidade analisar três narrativas curtas de Guimarães
Rosa que, por sua vez, tratam ou aludem à cultura sul-mato-grossense. Trata-se dos contos
“Sanga Puytã”, “Cipango” e “Entremeio com o vaqueiro Mariano” que, além de outros temas,
abordam o regionalismo literário enquanto ambiente, homem, linguagem e riqueza cultural da
região. Para tal análise, privilegiar-se-ão os postulados teóricos críticos dos Estudos Culturais,
especificamente os conceitos de cultura híbrida, fronteira, margem e transculturação. Nesse
sentido, o livro Culturas híbridas, de Nestor Canclini, será seminal, por contemplar o conceito
de hibridização cultural que norteará toda a proposta do referido projeto. Também o livro
Literatura e cultura na América Latina, de Ángel Rama, que procurou mostrar Guimarães
Rosa como transculturador narrativo e, ainda, a obra A mobilidade das fronteiras, de Cássio
Eduardo Viana Hissa, que mostrou como é intrincada a questão de fronteiras e limites e como
foi resolvida a questão de fronteira brasileira-paraguaia, mais especificamente.
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