Este trabalho pretende apresentar uma leitura de “Zingarêsca”, último conto de Tutaméia – Terceiras Estórias (1967), de Guimarães Rosa (1908-1967), buscando evidenciar as características do grotesco que tornam o mundo de Zepaz um mundo estranhado que já não permite uma orientação – conforme teoria discutida por Kayser. Pretende ainda mostrar, amparado pela teoria de Mikhail Bakhtin sobre carnavalização, que o grotesco se faz presente na eliminação de censuras ocasionada pela festa carnavalesca dos zíngaros, originando, assim, a dissolução do que é considerado ordenado, a
desconstrução do convencional.
Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
A presente tese analisou a representação dos personagens estrangeiros na obra de João Guimarães Rosa. Observou os elementos narrativos que os caracterizam, configurados pelos processos de troca e assimilação cultural. “O estrangeiro em conflito com o sertanejo” verifica os casos dos estrangeiros em situação de embate com o nativo, em “Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo”, “Faraó e a água do rio”, “O outro ou o outro” e “Zingarêsca”. “Trocas afetivas” trata do romance rosiano, Grande sertão: veredas. Nele, verifica como os estrangeiros participam da formação social do narrador protagonista. “Traduzindo o sertanejo” revela como a tentativa de compreensão do nativo, em “O recado do morro”, torna-se fator indispensável para a solução do enigma que o próprio recado carrega. “Nostalgia do estrangeiro” examina os contos “O cavalo que bebia cerveja”, “Um moço muito branco” e “Orientação”, a fim de observar a passagem do estranhamento à saudade que marca a enunciação. Por fim, confirmou a tese de que as personagens estrangeiras são aceitas pelo sertanejo de modo cordial. Por isso, desempenham papel ativo na composição deste sertão mundo de Guimarães Rosa. Seja como elemento que reforça as características sertanejas através do contraste ou pelas trocas materiais e imateriais que realiza com o homem do sertão.
Este trabalho tem por objetivo apresentar uma leitura de "Zingarêsca", último conto de Tutaméia (Terceiras Estórias) (1967), de Guimarães Rosa (1908-1967), buscando evidenciar as características do grotesco que tornam o mundo do personagem Zepaz um mundo estranhado que já não permite uma orientação - conforme teoria discutida por Wolfgang Kayser. Pretende, ainda, mostrar, amparado pela teoria de Mikhail Bakhtin sobre carnavalização, que o grotesco se faz presente na eliminação de censuras ocasionada pela festa carnavalesca dos zíngaros, originando, assim, a dissolução do que é considerado ordenado, a desconstrução do convencional. Para atingir os objetivos pretendidos, este estudo divide-se em duas partes. Em um primeiro momento, em virtude dos diálogos entre os textos da obra, há uma análise geral de Tutaméia. A seguir, "Faraó e a água do rio", "O outro ou o outro", "Intruge-se" e "Vida ensinada" são focalizados, uma vez que "Zingarêsca" retoma personagens presentes nos citados contos. Na segunda parte, os caminhos percorridos no trabalho, finalmente, cruzam-se. "Zingarêsca" é, primeiramente, analisada visando o estabelecimento de oposições entre grupos de personagens. Estabelecidas as oposições, analisa-se, a seguir, a configuração rosiana do grotesco. Configuração esta que faz de "Zingarêsca" um conto no qual ocorre o encontro de opostos.
Zingaresca, última das Terceiras estórias, começa com Z e termina com A, fechando e reabrindo a antiperipléia desse nada que é tudo. Mais um dos inúmeros jogos formais que constituem Tutaméia, único livro de João Guimarães Rosa publicado após 64. Mas Zingaresca não é apenas o livro às avessas, com seu índice de releitura. É também o mundo às avessas: o padre fugido com os ciganos; a adúltera sovando o marido a cacete (“Só assim o povo tem divertimento”, segundo o preto Mozart). Difícil evitar o termo carnavalização. Além disso, trata-se do movimento final, em que o reaparecimento de várias personagens manifesta como nunca a existência de um espaço textual comum para as estórias de Tutaméia, ao mesmo tempo em que o marca com o selo da desordenância, da tensão (gerada pelo encontro de ciganos, boiadeiros, o proprietário e sua mulher), da loucura (dos ciganos, diz-nos outra estória, O outro ou o outro: “Loucos, a ponto de quererem juntas a liberdade e a felicidade”), do deslocamento, da a
Zingaresca, última das Terceiras estórias, começa com Z e termina com A, fechando e reabrindo a antiperipléia desse nada que é tudo. Mais um dos inúmeros jogos formais que constituem Tutaméia, único livro de João Guimarães Rosa publicado após 64. Mas Zingaresca não é apenas o livro às avessas, com seu índice de releitura. É também o mundo às avessas: o padre fugido com os ciganos; a adúltera sovando o marido a cacete (“Só assim o povo tem divertimento”, segundo o preto Mozart). Difícil evitar o termo carnavalização. Além disso, trata-se do movimento final, em que o reaparecimento de várias personagens manifesta como nunca a existência de um espaço textual comum para as estórias de Tutaméia, ao mesmo tempo em que o marca com o selo da desordenância, da tensão (gerada pelo encontro de ciganos, boiadeiros, o proprietário e sua mulher), da loucura (dos ciganos, diz-nos outra estória, O outro ou o outro: “Loucos, a ponto de quererem juntas a liberdade e a felicidade”), do deslocamento, da a
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