Este trabalho se propõe a investigar a possibilidade do conto “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa (1908-1967), ser uma releitura poética do ensaio “Sobre o conceito de história”, de Walter Benjamin (1892-1940). Este, para criticar a noção de progresso, usa a metáfora do rio, em que a classe operária alemã estaria imaginando flutuar “com a corrente (...) na qual ela supunha estar nadando”. A noção do tempo como um rio "continuum" na história é substituída, pelo alemão, por uma história "como montagem", em que a função do historiador seria a de captar o acontecimento histórico em seu "relampejo fugaz", por meio da memória. No conto de Rosa a "canoa" do pai, representando a história, também surge em lapsos na recordação do filho, fixada momentaneamente em sua resistência à continuidade do rio (tempo). A tradição e o progresso não estão, respectivamente, atrás (passado) e à frente (futuro) no fluxo do rio, como pensavam os “historicistas”, mas nas margens, delimitando cada “tempo-de-agora” efetivamente vivido, tal qual a imagem de pensamento criada por Benjamin. Passagens de outros contos dos livros “Primeiras estórias” e “Tutameia: terceiras estórias” também são analisadas sob a perspectiva da hipótese de diálogo entre as obras de ambos. Adicionalmente, é realizado um levantamento de autores que já realizaram aproximações entre eles por diversas temáticas.
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