Em 1996, em uma de suas raras entrevistas, Guimarães Rosa enfatiza a importância da decifração de “A menina de lá” como fonte para iluminar o restante de sua obra. A crítica rosiana menciona, amiúde, o empréstimo transculturado que Rosa faz de textos poéticos, filosóficos e religiosos pertencentes ao patrimônio da humanidade. Esse artigo parte da premissa de que “A menina de lá” está escrito sob forma de um polissêmico koan, no qual se medita sobre o significado da morte em culturas asiáticas. Busca-se rastrear a convergência, por meio de desdobramentos especulares, entre a protagonista Nhinhinha e esse outro personagem de ficção narrativa, qual seja, João Guimarães Rosa. Para tanto, parte-se da história e das características próprias ao gênero literário “koan” e de aspectos da tradição budista, para interpretar um feixe de traços religiosos que simbolicamente marcam os demais personagens. Em última instância, este estudo destina-se a desentranhar elementos para interpretação do último capítulo aberto em koan por Rosa: sua enigmática morte ocorrida três dias depois da posse na Academia Brasileira de Letras.
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