O poeta cubano Severo Sarduy fornece algumas ferramentas para interpretar os elementos barrocos encontrados na literatura contemporânea, tais como a artificialização (grande uso de metáforas), a proliferação (progressão metonímica que remete ao significado ausente) e a condensação (troca ou fusão entre elementos fonéticos). Neste artigo, analisa-se como esses mecanismos aparecem na prosa de Guimarães Rosa, tomando como ponto de partida os contos de Primeiras estórias (1962). Procura-se evitar a categorização peremptória da obra de Guimarães Rosa como neobarroca, já que o termo foge a definições estanques e permeia grande parte da arte contemporânea. A crise da representação artística, apontada por Michel Foucault em A palavra e as coisas (1966),é potencializada na prosa poética do autor brasileiro. Assim, ao reagir a um postulado de regionalismo realista, Guimarães Rosa escapa da mera representação do objeto e procura construir sua arte no tecido lingüístico em si. Sua narrativa é um convite ao leitor para uma viagem nos meandros da linguagem, cuja ambigüidade reflete uma ambigüidade da existência.
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