Lélio, protagonista da novela “A estória de Lélio e Lina”, de Guimarães Rosa, inicia o seu processo de individuação através da busca pela imago paterna, que se encontra ocultada no elemento feminino, representado pelas mulheres mais importantes do texto - Sinhá-Linda, Jiní e dona Rosalina, que, juntas, compõem a anima do herói. Após difíceis provações afetivas na Fazenda do Pinhém, ele finalmente atinge a maturidade.
Objetivo mostrar, neste artigo, como se dá a individuação, na perspectiva junguiana, das personagens do conto “Substância”, Sionésio e Maria Exita, mediante a conjunção dos opostos que o casal representa. Através do polvilho, aqui, o elemento conciliador das dicotomias, Sionésio e Maria Exita atingem a totalidade, ou seja, a união harmoniosa das naturezas antinômicas, possível após a experiência conjunta das personagens, quando Maria Exita labutava na dura lida com o amido e, como que influenciado pelo aspecto numinoso do polvilho, Sionésio pede a moça em casamento.
Dentro do recorte "literatura e inconsciente", a proposta é um estudo de A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, sob a luz dos versos de Píndaro: "torna-te aquilo que és". Com efeito, nesse conto vemos a passagem de Nhô Augusto a Matraga: um percurso de singularidade – ou um processo de individuação – em que a original violência desabrida da personagem é vetorializada e adquire um rumo ético. Mas, como diz o narrador, ele é Matraga, "o homem": "A civilização está sendo constantemente criada de novo, de vez que cada pessoa, assim que ingressa na sociedade humana, repete esse sacrifício da satisfação instintual em benefício de toda a comunidade" (Freud, Conferências introdutórias à psicanálise I, 1915). E nos baseando num dos possíveis significados do nome do protagonista (Matraz = vaso alquímico), na marca com que é ferrado (o triângulo dentro de um círculo) e na importância da sua "hora" (seu kairós) – elementos que não são aleatórios, mas participam do mesmo sistema de pensamento, aposta-se na possibilidade de uma interpretação da transformação sofrida pela personagem na linha de um opus alquímico: da grande depressão em que foi lançado a sua "hora e vez”, sua áurea hora (Aurora) na luta de morte com Seu Joãozinho Bem-Bem.
O objetivo deste estudo é mostrar como se dá o processo de individuação das personagens de Guimarães Rosa, nos contos Substância, Estória Nº3, A estória do homem do pinguelo, Um moço muito branco, As margens da alegria, Os cimos, A terceira margem do rio, e na novela A estória de Lélio e Lina, sob a perspectiva junguiana. Segundo o psicólogo, o embate com o outro, a relação de alteridade, é condição fundamental para a maturação psicológica do indivíduo. Somente através do confronto com o não-eu, o sujeito pode lograr atingir o seu si-mesmo, ou seja, atingir a máxima expressão de suas potencialidades inerentes. Demonstrarei como, nas narrativas citadas, a relação muitas vezes problemática entre opostos é a via de superação dos problemas existenciais vivenciados pelas personagens.