Este ensaio é dividido em duas partes e, na primeira delas, tendo como base a teoria de comunicação poética de Paul Zumthor, analisaremos seis performances de dois grupos de contadores de estórias de Cordisburgo, Minas Gerais, que divulgam a obra do escritor João Guimarães Rosa por meio de apresen- tações públicas. Na segunda parte, utilizaremos as noções de Zumthor para analisar a presença do contador de estórias na obra de Guimarães Rosa, a partir das personagens Joana Xaviel e Camilo, de Uma estória de amor; e Laudelim, de O Recado do Morro, dois contos da obra Corpo de Baile.
Em Mia Couto e Guimarães Rosa, o conto torna-se um gênero preferencial pela possibilidade de incorporar as características da tradição oral, reinventando estórias em que o real e o imaginário se misturam e produzem um novo discurso literário. Nessa perspectiva dialógica entre a literatura brasileira e a moçambicana, mais precisamente entre estórias de Guimarães Rosa e Mia Couto, faremos uma análise do conto “Famigerado”, do livro Primeiras Estórias do escritor brasileiro, e do conto “Afinal, Carlota Gentina não chegou de voar?”, do livro Vozes Anoitecidas do escritor moçambicano, observando como esses autores criam suas estórias numa perspectiva transculturadora.