Este artigo, motivado pelo projeto de uma nova tradução alemã de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, tece reflexões sobre o texto-fonte diante de reais e possíveis estratégias em versões estrangeiras. Estas são parte da fortuna crítica e ao mesmo tempo ferramenta interpretativa, pois o traduzir permite uma abordagem hermenêutica privilegiada, rastreando, desvendando e tentando reconfigurar o “modo de designar” (Benjamin) de um texto, sua “lógica do estar-produzido” (Adorno), suas “operações formadoras” (H. de Campos). Para Rosa, a poética da criação deve guiar a poética da tradução, visando ao desvio sistemático com respeito à lingua-padrão, musicalidade, composição elíptica, efeitos de choque, estranhamento, hermetismo e sugestividade. Uma microanálise comparativa de seis frases do início do romance em nove traduções permite aventar a hipótese de que nos últimos cinquenta anos vem ocorrendo certa reorientação de estratégias domesticadoras para outras mais e estrangeirizantes, mais próximas do autor e de seu próprio texto.