A presente pesquisa se justifica por refletir, na obra Tutameia – Terceiras Estórias, de João
Guimarães Rosa, os aspectos, aqui, considerados mais representativos da linguagem rosiana:
as formas pelas quais o oral, o culto e o poético tecem, conjuntamente, seus fios numa
unidade que se revela pela diversidade de obra; assim como as vias ou trilhas pelas quais uma
diversidade linguística se entrelaça, se amalgama e se configura dentro de um caminho (ou
“ponto paragem”) – de língua – que, ao se efetivar em unidade, se manifesta, paradoxalmente,
pela pluralidade. Eis os aspectos típicos da prosa de Guimarães Rosa que, nesta pesquisa, se
apresentam de grande relevância para a compreensão dos mecanismos linguísticos e poéticos
que caracterizam a linguagem de Tutameia, já que o autor soube como nenhum outro explorar
as virtualidades da língua; soube engendrar tão quanto recriar potencialidades de linguagem
que se manifesta por uma lógica que é, a um só tempo, construída e construtora de mundos e
de vida. Desse modo, se infindos são os itinerários e as “veredas” representadas nas estórias
de Tutameia, também infinitos são os artifícios de Rosa no intento de garantir visibilidade a
esse vasto repertório cultural e linguístico representativo do ambiente e da realidade
específica que servem de referência para o escritor. Como tal, o presente estudo discute a
lógica performativa adotada pelo prosador como mecanismo de evidência e notoriedade
especialmente da língua oral, bem como discute os motivos temáticos e estruturais que
justificam o caráter inovador na (des)articulação e configuração da língua e da obra aqui
tomada como objeto de estudo. A presente pesquisa busca compreender como os “fios” da
linguagem de Tutameia se “enredam” – na mesma proporção em que se “desenredam” – para
formar uma “teia” que, “tecida”, se configura num todo de obra que “teoriza” ao mesmo
tempo em que efetiva um novo processo de (re)criação de língua, bem como do fazer literário.
Por conseguinte, os percursos linguísticos e poéticos trilhados pelo ficcionista constituem o
nosso itinerário de leitura, de análise e de crítica. A linguagem do autor constitui, na obra, o
espaço dos “pontos paragens” nos quais repousa nosso olhar aguçado em busca de
compreensão e de estudos que possam se somar à fortuna crítica da obra rosiana.