Sabendo da plena consciência de Guimarães Rosa de que um autor deve explorar a originalidade da expressão linguística, fazendo com que ela seja capaz de exercer seu poder para atuar sobre os homens, este artigo tem o intuito de, através da descrição dos procedimentos enunciativos adotados pelo autor mineiro em sua narrativa Campo Geral, demonstrar como a língua se firma, em seu texto, não conforme um espelho da realidade, tampouco como um instrumento de representação dos fatos, mas como forma de ação sobre o próprio homem. A ideia é identificar as estratégias adotadas pelo enunciador para a configuração da afetividade que envolve esse discurso. Para isso, a análise de três dimensões da narrativa serão privilegiadas: a tensiva, a discursiva e a textual.
Com base nos apontamentos feitos por Luiz Tatit nas análises realizadas em seu livro Semiótica à luz de Guimarães Rosa, e também em outros textos seus, nosso intuito é o de examinar e descrever a configuração tensiva que subjaz ao conto “A menina de lá”. Interessa explicitar as operações sintáxicas que estão na base da estruturação narrativa e discursiva da trama e que, por isso mesmo, respondem pela sua força de convocação sensível-inteligível. Ao que nos parece, por meio da construção das personagens dessa narrativa, Rosa traz valiosas contribuições acerca das condições que regulam a interação entre os sujeitos.
O presente estudo tem como objetivo verificar como a morte, considerada um momento limítrofe para a existência humana no contexto ocidental, se apresenta sob uma espécie de encantamento na narrativa rosiana. Para compreender as tensões que perpassam o campo de presença do sujeito que se depara com a finitude, apresentamos uma análise a partir dos estudos da semiótica tensiva de Zilberberg, que concilia muitas das contribuições da fenomenologia de Merleau-Ponty junto com os postulados de uma semiótica de cunho estruturalista de Greimas. Acreditamos que é a partir dos conteúdos sensíveis que podemos compreender melhor os contos rosianos.
Este artigo coteja duas visões de construção do sentido, uma formulada de maneira científi ca pela semiótica de Algirdas Julien Greimas e outra elaborada em termos literários pela pena de João Guimarães Rosa. A partir de uma análise do conto ?Nenhum, nenhuma?, do escritor brasileiro, o autor desvenda as oscilações tensivas (de intensidade e extensidade) que regulam a trama narrativa da história, mostrando que os diferentes graus de tonicidade e/ou velocidade dos afetos revelados pelas personagens confi guram com maior precisão as causas de seus encontros ou separações. O próprio enunciador manifesta sua fi delidade a uma das personagens do conto por meio de ajustes tensivos (ambos cultivam a duração, a longevidade) que asseguram entre eles uma identidade profunda. Esse plano de interação difi cilmente seria reconhecido por um enfoque exclusivamente narrativo e discursivo.