Enchentes, inundações ocasionadas na região da capital paulista podem ter origem na retificação do rio Pinheiros na década de 20 a 40. Os impactos causados pela ocupação do antigo leito do Rio Pinheiros foram alvo de estudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Em projeto de Mestrado Profissional em Habitação, pela arquiteta e urbanista Angela Kayo, sobrepôs mapas do antigo leito do rio ao mapa de atual ruas de São Paulo e constatou grande modificação do traçado natural do rio. Alguns trechos foram desviados mais de 700 metros do traçado original.
O estudo detectou que muitos pontos de alagamento coincidem com o antigo leito do rio que foi aterrado, tal procedimento vem proporcionando as enchentes, segundo a pesquisadora. “[O local] onde foi feito o aterro fica mais baixo e acaba criando uma depressão e alagando.”, explica. Segundo a pesquisadora, com o estudo do antigo leito é possível encontrar “respostas para problemas urbanos atuais”.
Em processo objetivando a geração de energia entre as décadas de 20 e 40, houve a adensamento e ocupação da várzea paulista, culminando com a retificação do rio. “O leito antigo sofreu muita modificação, ele foi alvo de especulação imobiliária, sofreu muita alteração, houve urbanização dos terrenos. Isso aconteceu num primeiro momento, quando a Light [companhia responsável pelo projeto] desapropriou os terrenos para fazer a retificação do rio para alimentar a represa de energia em Cubatão”.
Segundo a pesquisadora, o então rio meândrico, com o curso cheio de curvas, foi reduzido à metade de sua extensão. “O rio tinha mais de 40 km. O projeto tirou mais de 20 km”, ressalta. Há presença de rua sem saída em locais onde antigamente passava o rio ou existência de “ruas curvas em locais planos, criando um traçado urbano diferente”. “Na região do parque do povo, a rua Brigadeiro Haroldo Veloso faz curva bem acentuada e era exatamente onde passava rio, assim como em vários pontos da cidade. Isso é muito comum.”
Para a realização do trabalho, a pesquisadora se baseou em um criterioso levantamento histórico, pautado principalmente por estudos da geógrafa Odette Carvalho de Lima Seabra. Além disso, estudou o meio físico juntamente com a legislação de uso e ocupação do solo. Para Angela, o estudo mostrou que a formação da cidade e da ocupação da várzea não levou em consideração o tipo de solo existente. “Não tinha nenhuma correlação entre a lei, entre a construção, e o meio físico”, explica.
Bienal de Arquitetura
O projeto da arquiteta está em exposição na 10° Bienal de Arquitetura de São Paulo, no núcleo “Modos de Fluir”, na parte de hidrografia. Parte da pesquisa de Angela esteve em exposição. Foram selecionados 50 projetos de cerca de 400, além disso, a Bienal ampliou a temática neste ano, sendo voltado anteriormente às edificações. “São Paulo tem uma rede hidrográfica imensa e está toda subterrânea. É interessante fazer um trabalho assim: que consiga mapear todos os rios para saber se aquele solo é propício à construção ou não”, conclui.