Estudo quer tornar possível reaproveitamento de urina humana como fertilizante para agricultura familiar. O projeto beneficiaria pequenos produtores, microempresas e coletores de material para a reciclagem. O trabalho faz parte de pesquisa de mestrado profissional de Camila Oyama, sob orientação do pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Wolney Castilho Alves.
A urina humana contém nutrientes essenciais à agricultura, como nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), elementos que advêm principalmente da mineração e que estão sendo importados devido à insuficiência da produção nacional. (figura 2). O reaproveitamento passaria pela coleta da urina, o que pode ser feito em domicílios, realizada por coletores que transportariam o material para usinas de armazenamento, nas quais ocorreria o tratamento de pH e diluição. “Esse tipo de tecnologia é inovadora, mas de jeito nenhum sofisticada, é até de certa maneira simples”, afirma o pesquisador Wolney Alves.
O processo passaria por incubadoras de cooperativas que seriam responsáveis por proporcionar suporte, auxiliar e ensinar técnicas de empreendedorismo às microempresas. “Essa tecnologia pode ser solução mais barata, adequada e interessante para gerar renda para um grupo e ser insumo de produção mais adequado, barato e economicamente mais atrativo para outro”, afirma.
Para o pesquisador, seria ideal que a tecnologia começasse por incubadoras universitárias como a Incubadora de Cooperativas Populares da UNESP de Assis, com a mestranda manteve contato durante a pesquisa, que auxiliaria o desenvolvimento da economia solidária. “Essas cooperativas e microempresas têm linhas especiais de financiamento com juros subsidiados, às vezes com fundo perdido”. Além disso, “o produto final deve ser vendido em condições competitivas com o fertilizante convencional”, explica Wolney.
Segundo o pesquisador, não houve teste em campo com cooperativas. No entanto, foi feita simulação teórica e houve contato com o Movimento de Economia Solidária em diversas formas de organização: cooperativas, empreendimentos próprios, autônomos e pequenos produtores. Como o consumo brasileiro dos nutrientes como potássio, nitrogênio e fósforo está na ordem de milhões de toneladas por ano, seria impossível alcançar a demanda de produções agrícolas como soja, laranja e cana-de-açúcar, o projeto visa alcançar o pequeno agricultor. “A nossa pesquisa se voltou exatamente para voltar esses produtos para esse tipo de população”, ressalta.
A partir da pesquisa, Camila observou que o desenvolvimento de um modelo que impeça a mistura da urina ao esgoto proporcionaria o maior aproveitamento dos nutrientes. A pesquisa apurou os possíveis métodos de separação da urina antes de chegar à estação de tratamento, como vaso sanitário segregador de urina e fezes ou instalação de mictórios em domicílios e em lugares públicos. O estudo também realizou ensaios com mictórios masculinos acoplados a galões de armazenamento.
Após o armazenamento, a urina foi tratada e transformada em cristais de estruvita. A forma sólida tem a vantagem de redução do volume, o que na forma líquida é um problema. No entanto, quando há a precipitação, nem todo nutriente que está na fase líquida passa para o formato sólido. “Estamos desenvolvendo pesquisa atualmente para tornar mais eficaz o aproveitamento dos nutrientes da forma líquida na passagem para a fórmula sólida, para evitar todo o problema de transporte, porque consideramos chave essa questão, principalmente aqui no Brasil”, esclarece.
Segundo o pesquisador, o processo químico para a transformação da urina em cristas de estruvita é extremamente simples, o que facilita a adaptação das microempresas ao processo. “A reação química necessária também é simples de ser feita, uma pessoa sem conhecimentos específicos sobre química e procedimentos em laboratório pode aprender a fazer”.