O canabidiol, princípio ativo da maconha que não possui efeitos psicotrópicos, pode ser utilizado como anti-inflamatório na prevenção e tratamento de doenças pulmonares. O fármaco é bem tolerado em humanos e o estudo realizado por Alison Ribeiro na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP pode contribuir para futuros tratamentos de doenças pulmonares.
Os testes consistiam em injetar o canabidiol nos camundongos, antes ou depois de o animal adquirir a doença, para testar tanto o efeito preventivo quanto o terapêutico. Após um determinado período, o tecido pulmonar e o sangue dos camundongos foram analisados para concluir a pesquisa. “É importante ressaltar que o fármaco se mostra extremamente seguro em humanos e vem sendo testado clinicamente, de forma preliminar, para o tratamento de desordens como ansiedade e psicose. Há também evidências que permitem iniciar estudos em humanos no tratamento da diabetes, isquemia e câncer”, explica Ribeiro.
Alternativa para doenças pulmonares
A doença escolhida para a pesquisa foi a injúria pulmonar aguda e a sua forma mais grave, a síndrome do desconforto respiratório agudo. “Pensamos que seria interessante estudar os efeitos do canabidiol numa doença que tem altos índices de mortalidade e não possui um tratamento específico”, conta. Atualmente, não existe um tratamento especifico para essa doença, “nem os corticoides se mostram eficientes em diminuir a inflamação, sendo a única opção existente o tratamento de suporte em UTI.”
“O canabidiol foi doado por indústrias farmacêuticas europeias para o professor José Alexandre Crippa, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, que então nos forneceu para o estudo.” Em países como Reino Unido, Espanha, Itália, Alemanha, Dinamarca, Nova Zelândia e Canadá, já existe no mercado um medicamento, Sativex, com base no canabidiol e no THC, princípio ativo da maconha com efeito psicotrópico. Esse remédio é indicado para pacientes com esclerose múltipla e dor devido ao câncer, “há também pesquisas para outros tratamentos, como artrite reumatoide, disfunção urinária, anorexia e caquexia devido ao câncer e à AIDS, além de náuseas e vômitos em pacientes submetidos ao tratamento de quimioterapia.”
A linha de estudo é nova, mas deve contribuir para o descobrimento de tratamentos para doenças inflamatórias pulmonares. “Nosso trabalho contribui para um maior entendimento do potencial terapêutico dos canabinoides de maneira geral, sejam eles sintéticos ou extraídos da Cannabis sativa.”