Estudos realizados no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e no Instituto Butantã da USP conseguiram identificar as alterações causadas por um tipo específicio de bactéria na reprodução do mosquito Culex quinquefasciatus, transmissor do agente atiológico da elefantíase (filariose linfática).
A bactéria em questão é a Wolbachia pipientis. Ela se desenvolve principalmente no aparelho reprodutor dos mosquitos. Até meados dos anos 2000, não haviam muitas pesquisas acerca dela no Brasil. Desde então, o grupo a vem estudando.
“Já era sabido que essa bactéria causa distúrbios reprodutivos em diversos artrópodes e nematóides”, explica Fábio de Almeida, cuja tese de doutorado corresponde à pesquisa. Ele e seu grupo se utilizaram de métodos tradicinais, já descritos na literatura, para desinfectar os mosquitos e, a partir disso, estudar as alterações que ela causa no animal.
De início, foram feitos testes para avaliar a viabilidade, a fertilidade e quantidade dos ovos, dentre outros fatores, cujo conjunto é denominado fitness reprodutivo. “Observando que os insetos infectados eram melhores em alguns aspectos e piores em outros, começamos a nos perguntar como a bactéria causa essas alterações do fitness”, conta Fábio. Para exemplificar, ele explica que os mosquitos infectados colocam menos ovos. Após verificar isso, o grupo supos que a bactéria podia induzir o Culex a produzir menos proteínas, que seriam transportadas para os ovarios, diminuindo, assim, a quantidade de ovos. Outra possibilidade seria que as bactérias presentes no ovario estariam consumindo essas proteínas. “Nós então fizemos testes para analizar a produção da principal proteína típica do ovo: a vitelogenina. É esse tipo de verificação que fizemos”, explica.
Contexto, resultados e consequências
A elefantíase ainda é uma doença que afeta muita pessoas e causa graves problemas de saúde. No mundo todo, há cerca de 120 milhões de pessoas contaminadas. 40 milhões delas estão desfiguradas ou invalidadas em decorrência da doença. Além disso, aproximadamente 1,4 bilhões de pessoas, em 73 países, estão sob risco de contrair filariose.
Controlar a proliferação do mosquito Culex é uma medida importante no combate à elefantíase. Este método utilizado pelo grupo é conhecido em ecologia como controle biológico, que consiste em utilizar meios naturais para diminuir a população de organismos considerados pragas.
Porém, apesar de promissora, a infecção por Wolbachia pipientis não ocorre da mesma forma em todos os mosquitos .“As alterações reprodutvas são diferentes em casa espécie de mosquito. No Aedes aegypti [transmissor da dengue], a infecção por Wolbachia faz com que o mosquito morra muito mais rápido e ele acaba não conseguindo transmitir a dengue”, explica Fábio. No caso do mosquito Culex, as desvantagens são pouco significativas. “Em alguns aspectos, a bactéria é até favorável ao mosquito. Por isso, deve-se estudar esta infecção caso a caso”, pontua o pesquisador.