A falta de saneamento básico leva moradores da ilha do Bororé, situada às margens da represa Billings, a consumir água com elevados níveis de alumínio, considerado um metal tóxico. Sem abastecimento de água tratada, a comunidade pesqueira que vive na região utiliza a água proveniente de poços instalados nas residencias, sem que haja qualquer tipo de tratamento prévio ao consumo.
O excesso de alumínio na água consumida pelos moradores da região foi uma das análises feita por Renata Bazante Yamaguishi, em conjunto com pesquisadores do Ipen. Através do uso inovador de irradiação ionizante durante a pré-análise de amostras de água, Renata mostrou que as taxas de alumínio são muito maiores do que se pensava, uma vez que a radiação quebra as moléculas orgânicas e permitem a mineralização do alumínio, permitindo a real noção da quantidade do metal tóxico presente na água. O novo método de análise garantiu a Renata o título de doutora.
Se acumulado em excesso no organismo, o alumínio pode causar doenças crônicas, como o mal de Alzheimer. O limite estabelecido pelo Ministério da Saúde é de 0,2 mg/l de alúminio em água potável, como manda a portaria 2.914/11 (antiga 518). De dez poços analisados, apenas um manteve a concentração de alumínio abaixo do limite estabelecido pelo Ministério da Saúde. Também foram encontrados ferro e mânganes em altas concentrações.
Ilha do Bororé
Mesmo não sendo uma ilha - porção de terra cercada por água - a comunidade que vive na Ilha do Bororé possui contato direto com as águas da represa Billings, pois retiram de lá os peixes para seu sustento.
Sem captação das água da Billings para o abastecimento local, os moradores constroem poços para obter água para o consumo. Esses poços podem ser tanto do tipo raso, alimentado pela retenção de água da chuvas em bolha no subsolo - a região possui solo é argiloso - como pelo tipo profundo, que alcança o lençol freático.
As águas dos poços encontram-se em grande parte contaminados por bactérias termotolerantes, sendo encontrados coliformes totais, principalmente a do tipo E. coli - existente em todos os animais de sangue quente - já que não há tratamento de esgoto e os dejetos são direcionados a fossas construídas próximas aos poços. A falta de espaço e desconhecimento dos riscos à saúde são os motivos de muitos moradores não seguirem a distância mínima de 30 metros recomendável entre uma fossa e um poço, além de não haver vedação na maioria das fossas.
Tentando melhorar a condição da água, muitos moradores colocam pedras de cloro (hipoclorito de cálcio) nas caixas d’água abastecidas pelos poços. Entretanto, segundo Renata, essa não é a melhor solução, pois o cloro pode gerar o triclometano, uma substância cancerígena, se combinado com o ácido húmico - presente nos sedimentos carregados até a caixa d’água.