O Ministério de Ciência e Tecnologia da Argentina assinou convênios com a USP e a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) que viabilizarão a construção do rádiotelescópio LLAMA, Large Latin American Millimeter Array. Com esse convênio, o órgão argentino se compromete a investir a mesma quantia de dinheiro empregada pelo Brasil, além de executar o projeto em ritmo suficiente para que tudo esteja pronta quando a antena chegar.

As primeiras fases dessa instalação estão sob os cuidados da parte argentina da parceria, que fornecerá a infra-estrutura para a instalação do radiotelescópio de doze metros de diâmetro. O observatório ficará na região argentina dos Andes, a 4.830 metros de altitude.

Jacques Lépine, professor do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) que participa do projeto, define de maneira simplificada o que é um radiotelescópio: “é como se fosse um prato parabólico que a gente aponta para o objeto que quer observar”. Os radiotelescópios têm uma grande superfície refletora que converge as informações recebidas para uma pequena área, fornecendo assim dados para o estudo astronômico.

O radiotelescópio em construção poderá atuar de duas maneiras distintas. Uma delas é o modo autônomo, chamado de single-dish. A outra é em colaboração com outros radiotelescópios, num processo chamado de interferometria. Com ele, duas ou mais antenas apontam para o objeto a ser estudado e se faz um cruzamento entre os dados obtidos nas diferentes estações, dando maior detalhamento para as informações. Lépine aponta que o LLAMA é o início de um projeto maior na área: “a gente está pensando nesse radiotelescópio como a semente de uma rede latino americana maior”.

Uma das possibilidades de parceria para processos de interferometria é com os radiotelescópios do projeto Alma, um conjunto de 66 antenas de aproximadamente 12 metros de diâmetro cada, localizada nos Andes chilenos, a menos de 200 km do LLAMA. Jacques Lépine destaca que apesar de estar localizado no Chile, o Alma não tem parceiros latino-americanos, excetuando-se o Chile. O LLAMA, por outro lado, é um projeto brasileiro e argentino que pretende se expandir. “Existe interesse em colocar outros radiotelescópios e outras posições depois para conseguir uma rede maior ainda, com mais sensibilidade e absolutamente competitiva.”

A instalação de radiotelescópios em regiões de grande altitude, tanto no caso do LLAMA como do Alma, tem a ver com a possibilidade de trabalhar em frequências de rádio muito elevadas, que chegam até cerca de 900 giga Hertz. “São frequências em que a atmosfera da terra tem um coeficiente de absorção razoavelmente alta”, explica Lépine. Ele ainda compara as estações nos Andes com o Observatório de Itapetinga, em Atibaia, e aponta que a estação brasileira tem atuação limitada justamente pela baixa altitude, fazendo com que a atmosfera terrestre absorva grande parte do sinal do radiotelescópio.

Jacques Lépine acredita que a instalação do LLAMA permitirá pesquisas em várias áreas da astronomia, como a astrobiologia, o estudo da estrutura de braços espirais, a observação de objetos galácticos e extragalácticos, composição química de estrelas, buracos negros e muitos tópicos. “Esse nosso, o LLAMA, ele atende a uma comunidade grande, então quase qualquer astrônomo vai encontrar ali seu ramo para pesquisar”.

Na parceria do projeto, os órgãos argentinos ficam responsáveis por financiar o desenvolvimento de infra-estrutura, seja na abertura de estradas, na geração de energia e estabelecimento de telecomunicações ou na construção das salas de controle. Os investimentos brasileiros serão para pagar a produção do telescópio, pela mesma firma alemã que construiu o Alma. O radiotelescópio será construído na Alemanha e trazido por via marítma, desembarcando no Chile. De lá até a Argentina será levado em caminhões. A estrutura do LLAMA terá peso de aproximadamente 80 toneladas.

Mais informações: http://www.llamaobservatory.org/portuguese.html