A origem da Via Láctea ocorreu pelo colapso de uma nuvem de gás, gerando as estrelas que se conhece hoje. Tal conclusão é resultado do estudo de aglomerados de estrelas presentes na Via Láctea e em outra galaxia, conhecida como Pequena Estrela de Magalhães. Os processos de formação de galáxias como a nossa foram o tema da tese de doutorado de Bruno Moreira de Souza Dias, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG).
Uma conclusão da tese, a que explica a formação da Via Láctea, decorre da comparação entre a organização da nuvem gasosa, a composição química e a idade dos aglomerados estelares da galáxia. Nas partes mais internas dessa nuvem o gás estava mais denso, o que proporcionava formação estelar mais eficiente em relação às áreas mais externas. O astrofísico explica o colapso da nuvem: “o que faz o colapso (a contração) acontecer é a força da gravidade entre as partículas de gás, pois massa atrai massa”.
A atual estrutura da Via Láctea tem heranças do colapso inicial: para aglomerados de mesma idade, na parte mais interna, chamada de Bojo, os aglomerados são mais ricos em ferro, que indica maior eficiência de formação estelar, enquanto que no Halo, região mais externa da galáxia, aglomerados com a mesma idade têm menor quantidade do metal.
Outro ponto abordado por Bruno é a interação entre a Via Láctea e a Pequena Nuvem de Magalhães, galáxia vizinha à nossa e cem vezes menor do que a primeira em termos de massa. Ela está a uma distância de aproximadamente 200 mil anos-luz de nossa galáxia. A interação é proporcionada pela gravidade que a Via Láctea exerce sobre a Pequena Nuvem de Magalhães, a qual orbita ao redor da galáxia maior. “A mesma força que faz a Terra orbitar o Sol é a força que faz a Pequena Nuvem de Magalhães orbitar a Via Láctea”, esclarece Dias.
De acordo com os resultados obtidos pelo astrofísico a gravidade exercida pela Via Láctea, por mecanismo conhecido como força de maré, explica também a disposição interna da Pequena Nuvem de Magalhães. Isolando-se uma região da galáxia, à qual denominaram West Halo, foi possível constatar que a Pequena Nuvem de Magalhães possui uma formação estelar complexa, com um gradiente de idades dos aglomerados. Quanto mais longe do centro da galáxia, mais velhos eram os grupos de estrelas. “Isso significa que os aglomerados mais velhos, que se formaram primeiro, foram tirados das regiões mais centrais da galáxia, enquanto os aglomerados mais jovens ainda estão sofrendo esse processo de extração de seu local de origem”, revela Bruno.
A nomenclatura Pequena Nuvem de Magalhães foi dada em homenagem a Fernão de Magalhães, navegador português que avistou tal galáxia. Ela tem aparência de uma nuvem e pode ser vista a olho nu em um céu bem escuro. O mesmo acontece com a Grande Nuvem de Magalhães, outra galáxia avistada pelo navegador. A posição de ambas próximo ao pólo sul faz com que sejam importantes referenciais para a navegação.