Tendo o som como elemento central, o Cinusp Paulo Emílio fecha o ano de 2014 com a mostra Ouvir Imagens. O objetivo é abordar as inúmeras perspectivas da sonoridade dentro do contexto da cinematografia. Possibilidades semânticas, morfológicas e estéticas resgatam o sentido da audição como parte essencial do filme e trazem o espectador para a história, tratando o som como elo medular de outros recursos do cinema, como a cor ou a fotografia.
Segundo Cédric Fanti, curador, a mostra não tem a pretensão de focar em nenhuma teoria específica sobre o som no cinema. Ao contrário, “tenta enxergar uma relação entre a obra e o observador através do diálogo com seu repertório prévio, do aguçamento perceptivo e das eventuais rupturas que isso possa provocar”. Ainda segundo Cédric, “a série de filmes a serem exibidos abandona o desejo de reunir exemplos representativos, partindo para uma curadoria heterogênea e que não privilegia a noção de história como uma evolução linear, mas que permite a presença de narrativas simultâneas e pontos fora da curva”.
Neste sentido, são priorizadas obras como O Cinema Falado, dirigido por Caetano Veloso, onde a voz é utilizada em diversas possibilidades sonoras e onde a linguagem cinematográfica é utilizada para a construção de um discurso multifacetado. Blue, de Derek Jarman e estrelado por Tilda Swinton, é outro bom exemplo. Nesta produção, o espectador é desafiado a criar imagens em sua mente a partir de 75 minutos de um filme que apenas mostra uma tela completamente azulada, deixando as falas dos personagens e o som projetado por suas vozes e pela trilha sonora como únicos elementos narrativos. A ideia é deixar o observador (ou ouvinte) com a pergunta: Blue é realmente um filme?
Ouvir Imagens ainda navega por outros universos que não o do cinema, mas que possuem intensa relação com a sétima arte, como a música. Conjuntos musicais como a Camerata Profana, orquestra experimental e independente formada por alunos do Departamento de Música da USP e o grupo Personne, que busca dialogar com o cinema experimental, produzindo intervenções em filmes através de trilhas sonoras ao vivo, são outras atrações da mostra. Além disso, o festival apresenta, em parceria com o Instituto Goethe de São Paulo, uma palestra com o diretor austríaco Peter Kubelka, após exibição de Monument Film, obra em que seus filmes Arnulf Rainer e Antiphon são projetados ao mesmo tempo, criando um efeito de estroboscopia, onde o silêncio de um acompanha o ruído de outro. Outro evento interessante é com o compositor Lívio Tragtenberg e o editor de som Fernando Henna, que discutirão a fronteira entre música e ruído, a conexão entre cinema e música e o processo criativo do músico que trabalha com imagens, assuntos que materializam em forma de debate, o sentido de “ouvir imagens”.
Serviço: A mostra Ouvir Imagens está em exibição no Cinusp Paulo Emílio (Rua do Anfiteatro 181, Colméia, Favo 37 - Cidade Universitária; telefone: 011 3091-3540) e no Centro Universitário Maria Antônia (Rua Maria Antônia, 258 e 294 - Vila Buarque; telefone: 011 3123 5200). Entre 1 e 19 de dezembro. Entrada Gratuita. Informações de horário e programação: www.usp.br/cinusp