ISSN 2359-5191

10/04/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 18 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
ICB estuda regeneração de neurônios comprometidos do intestino
Laboratório de Neurogastroenterologia pesquisa recuperação do sistema nervoso entérico após danos por isquemia e colite
Isquemia e colite ulcerativa danificam neurônios do intestino (Fonte: Reprodução/Nature)

Pesquisas recentes do Departamento de Anatomia do ICB (Instituto de Ciências Biomédicas), lideradas pela professora Patricia Castelucci, indicaram que neurônios do intestino que sofreram lesões podem se recuperar em níveis consideráveis. Pessoas que possuem isquemia intestinal (interrupção do fluxo sanguíneo e da oxigenação das células) ou colite ulcerativa (inflamação e feridas no intestino grosso) podem sofrer danos funcionais no trato digestório, como o comprometimento da motilidade intestinal. Os estudos, no entanto, fornecem uma luz para essas pessoas.

“Você pode abordar a colite ulcerativa sob vários aspectos. Nós no laboratório abordamos os efeitos da colite sobre o sistema nervoso entérico”, explica a professora. A equipe é financiada pela Fapesp, Capes e CNPq.

Segundo cérebro

Como foi atestado pelo médico americano Michael Gershon, o sistema nervoso entérico é uma espécie de “segundo cérebro” do corpo humano, pelo fato de conter um número elevadíssimo de neurônios, na faixa de 100 milhões. Eles se dividem em diferentes tipos, como os sensoriais, os de relaxamento e os de contração. Além disso, dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que a cada 100 mil pessoas no planeta, entre 5 e 6 têm uma doença inflamatória intestinal. Daí a importância de se desenvolver pesquisas na área.

As pesquisas

No trabalho conduzido por Marcos Vinicius da Silva, utilizou-se um composto para a indução da colite ulcerativa em um grupo de ratos e ficou comprovada que a perda neural está associada à colite. Já na experiência de Kelly Palombit, foi feita a obstrução do fluxo sanguíneo de artérias do intestino dos espécimes para estudar a isquemia e a reperfusão (o retorno do sangue).

Quando um tecido se lesiona, como é o caso da isquemia ou da colite ulcerativa, o organismo direciona um grande aporte de energia (através da “molécula energética” ATP, ou trifosfato de adenosina) para que ele se recupere. O ATP, porém, precisa de um receptor para conseguir atuar na célula, chamado de receptor purinérgico. A alta concentração de ATP devido à lesão, no caso do intestino, em vez de provocar a neurorregeneração do tecido, pode causar justamente o contrário: a neurodegeneração, ou seja, a deterioração ou mesmo a morte do neurônio. Isso porque o ATP ativa o receptor P2X7, podendo fazer com que mais cálcio e sódio entrem no neurônio. Esse desequilíbrio químico desregula a célula, levando à apoptose (morte celular).

No estudo conduzido por Palombit, foi introduzida a substância antagonista Brilliant Blue G (BBG), que bloqueia o receptor P2X7 do ATP, fazendo com que as trocas químicas indesejadas não ocorram. Como efeito, pode ocorrer a neuroproteção, isto é, a diminuição da morte desses neurônios. Foi observado que o grupo exposto ao BBG apresentou uma melhora significativa da atividade neuronal em relação ao que não foi exposto. “Se esses neurônios morrem menos, a parte funcional do intestino pode ser recuperada”, explica Castelucci.

Retrospecto e perspectivas

O laboratório de Neurogastroenterologia foi um dos primeiros a utilizar o BBG no intestino, buscando reparar os efeitos da isquemia e da colite ulcerativa nos neurônios entéricos. Cientistas dos EUA já tinham usado o BBG em casos de lesão na medula espinal, que compõe o sistema nervoso central, o que deu base para o estudo do ICB. O Departamento de Anatomia encontrou resultados animadores, assim como os americanos.

Com o mapeamento do que ocorre na isquemia, na inflamação intestinal e no sistema nervoso entérico, Patricia Castelucci afirma que agora a equipe irá partir para o tratamento. Ela pontua que é preciso estudar melhor os efeitos do antagonista na neuroproteção e menciona ainda a incorporação do BBG ao trabalho com células-tronco no intestino. “Esse é mais difícil, mas é uma outra estratégia terapêutica para atuar sobre a isquemia e também sobre a colite”.

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