ISSN 2359-5191

02/09/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 86 - Saúde - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
Proteínas do sistema imune estão associadas a fadiga em crianças com câncer
O estudo realizado pela USP é o primeiro a apresentar a correlação

Realizada pelo Departamento de Enfermagem Materino-infantil de Saúde Pública, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, a dissertação teve como objetivo entender o funcionamento de citocinas e sua relação com sintomas de pacientes com câncer. O estudo analisou amostras sanguíneas de  33 crianças e adolescentes hospitalizados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. A pesquisadora Emiliana de Omena Bonfim, autora do estudo, baseou-se em dois grupos estadunidenses que utilizavam biomarcadores de fadiga, um deles da Universidade da Califórnia e outro do National Institute of Health (NIH). Segundo ela, não existem outras pesquisas sobre o tema que tenham sido realizadas com crianças ou adolescentes.

As citocinas são proteínas sinalizadoras do sistema imune, liberadas o tempo todo pelo organismo. O desequilíbrio na produção de citocinas, ou seja, quando a produção dessas substâncias aumenta, indica alguma disfunção e sinaliza a necessidade do organismo de se proteger. Para a realização da pesquisa, foram coletados 4ml de sangue para dosagem das citocinas, além de dados clínicos para caracterização dos pacientes e identificação de variáveis de interferência na determinação da fadiga  e alterações no padrão de sono.

O passo seguinte foi a aplicação de dois questionários individuais sobre fadiga e qualidade de vida dos pacientes. Segundo Emiliana, qualidade de vida é um conceito transitório, que precisa ser ajustado aos momentos de vida do indivíduo. “Os critérios para definir qualidade de vida para uma criança com câncer que passa meses internada, não pode ser o mesmo para avaliar a qualidade de vida de uma criança saudável que está lá fora jogando bola”, afirma. Portanto, o questionário aplicado às crianças é constituído de um módulo do Inventário Pediátrico de Qualidade de Vida focado em pacientes pediátricos portadores de câncer. “Por exemplo, algumas das perguntas seguem a seguinte linha ‘Seus machucados incomodam? Com qual frequência? Saber o seu diagnóstico te incomoda? Você se preocupa com o que vai acontecer com você?”, relata a pesquisadora. Também foi instalado no paciente um Actigraph de Pulso - um ‘relógio de pulso’ que é capaz de monitorar o sono do paciente.

Afora a oportunidade de realização de um trabalho inédito, Emiliana indica sua curiosidade como pesquisadora em ser capaz de responder a determinadas questões. De acordo com ela, a fadiga é o problema mais reportado por crianças e adolescentes com câncer. “Quando esse cansaço se torna crônico, isso limita muito a qualidade de vida desses indivíduos”, afirma. “Não existe tratamento, pois ainda não sabemos a causa. A partir do momento em que identificarmos qual é a causa, qual é a substância que causa essa alteração, então poderemos responder essas perguntas.”

O estudo prova  que pacientes pediátricos com câncer apresentam biomarcadores (citocinas) em níveis capazes de afirmar a sua correlação com a fadiga de forma multi dimensional e a qualidade do sono. Foram encontradas correlações negativas entre a citocina IL-1 e a qualidade de vida e postitivas entre a citocina IL-2 e a duração do sono. “Tem proteínas que só serao produzidas quando estivermos dormindo. Quando mais cansada estiver a criança, mais ela dorme. E quando mais tempo a criança dorme, mais ela produz IL-2”.

O acompanhamento dos pacientes deu-se em um período relativamente curto. Segundo Emiliana, o ideal seria poder realizá-lo antes, durante e depois do diagnóstico do câncer e início do tratamento, pois a fadiga e alteração do sono podem permanecer mesmo após o término do tratamento. “A fadiga, por exemplo, pode ser reportada até mesmo dez anos depois da cura do câncer. É como se fosse uma vacina”, afirma.

Quanto a possibilidade de utilização de medidas alternativas de tratamento, Emiliana reitera que existem pesquisas brasileiras que apontam o uso de pó-de-guaraná para o tratamento da fadiga. Entretanto, de acordo com a pesquisadora, a medida não seria efetiva se usada a longo prazo, pois daria ao paciente uma sensação de energia que ele não tem. Até hoje, os tratamentos alternativos, não farmacológicos, que têm se mostrado mais efetivos no tratamento da fadiga são as terapias psicocognitivas e comportamentais, ou seja, o acompanhamento com psicólogo ou terapeuta. A utilização de outras medidas como yoga, massagem, musico-terapia e toque terapêutico também têm se mostrado válida.

Atualmente, Emiliana encontra-se na Universidade de Saskatchewan‎, no Canadá, para a realização de um doutorado, que teve início em 2015. A pesquisa será uma extensão de seu mestrado em forma de estudo clínico, de experimentação de intervenções para a fadiga e seus efeitos biológicos, realizado com pacientes adultos portadores de câncer.


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