Uma das grandes dificuldades do tratamento convencional do câncer é a agressividade enfrentada pelos pacientes durante os procedimentos de quimio e radioterapia. O paciente costuma ficar fraco, fatigado e perder peso. Com o intuito de combater essa dificuldade, a professora Marília Cerqueira Leite Seelaender, do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do Instituto de Ciências Biológicas (ICB-USP), coordena pesquisas que desenvolvem métodos para aliviar os sintomas de cansaço extremo.
Caquexia é o nome dado pelos cientistas às complicações clínicas frequentes em portadores de neoplasia maligna durante o curso de tratamento. Os sintomas envolvem perda involuntária de peso, intenso consumo do tecido muscular e adiposo, atrofia muscular além de anemia e fadiga. Segundo a professora, “o tecido adiposo sofre infiltrações por células do sistema imunológico que secretam fatores inflamatórios”, o que contribui para agravar a inflamação sistêmica crônica no quadro de pacientes caquéticos.
As pesquisas coordenadas por Seelaender apontaram previamente, em modelo experimental, que incluir a prática de exercícios físicos na rotina de pacientes que tratam tumores aliviam os sintomas da caquexia. “Notamos anteriormente, em modelo animal, utilizando ratos, que os exercícios físicos, de fato, ajudavam durante o tratamento do câncer”, explica.
Com o sucesso do projeto em modelo experimental, a equipe da professora passou a desenvolver e utilizar as técnicas em humanos. Os resultados observados nos pacientes que tratam câncer no Hospital Universitário (HU) e no Hospital das Clínicas (da FMUSP) foram positivos e mostraram eficácia dos exercícios físicos na melhora de peso e diminuição da inflamação sistêmica crônica. “Durante 6 semanas de exercício físico, notamos a melhora do apetite e da função muscular do paciente, além da redução da perda de peso e diminuição da massa tumoral”, esclarece.
Embora os resultados das pesquisas sejam positivos demonstrando que os exercícios físicos, de fato, ajudam os pacientes durante esse tratamento tão agressivo, a adesão dessa prática ainda é muito restrita. Não é comum encontrar pacientes, que enfrentam os procedimentos terapêuticos do câncer, aliarem os exercícios à sua rotina de tratamento. Para a pesquisadora do ICB, isso ocorre devido à resistência da família, já que o paciente se encontra debilitado fisicamente e os exercícios físicos o cansariam ainda mais. “O paciente quando trata o câncer já fica em uma situação física debilitada, de cansaço e fadiga. Por isso, a resistência em incluir na rotina do tratante exercícios físicos”.