São Paulo (AUN - USP) - Um novo tipo de cerâmica para fabricação de implantes ortopédicos e dentários é desenvolvido no Centro de Ciência e Tecnologia de Materiais (CCTM) do Instituto. Trata-se de uma cerâmica mais porosa, portanto menos densa, do que as utilizadas atualmente nos enxertos. Esta característica, aliada à sua composição semelhante a dos ossos, permite que o tecido danificado se regenere por entre as cavidades da prótese e acabe por absorvê-la. A maioria dos biomateriais, produtos naturais ou sintéticos empregados na reposição de partes do corpo humano, não possibilita essa interação, pois o organismo acaba isolando o objeto estranho através de uma camada de fibras.
"Frágeis, mas não fracas." – esta é a descrição que o doutor em materiais e coordenador da área de materiais particulados do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), José Carlos Bressiani, faz da cerâmica produzida. Ele explica que a busca por uma substância que pudesse ser moldada para conduzir a reconstituição do tecido afetado sem a necessidade de sua posterior retirada, como no caso dos pinos metálicos, levou ao seu desenvolvimento.
O próprio Instituto realizou os testes de citotoxicidade, isto é, o produto não foi nocivo a células animais colocadas em contato direto com ele. Sua avaliação também foi positiva na aplicação em coelhos, feita em parceria com pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.
Atualmente, a equipe de Bressiani tem se esforçado para um "refinamento" dos processos para a obtenção do material. Os trabalhos se concentram em um aperfeiçoamento da produção, ou seja, a matéria-prima desejada para a fabricação dos implantes já está aprovada. Sua comercialização depende apenas do interesse das empresas da área. Caberiam a elas o desenvolvimento dos moldes e formas dos enxertos.
Além desse tipo de cerâmica, cuja utilização prática em biomateriais seria inédita no país, o Ipen pesquisa a obtenção de materiais, metais e cerâmicas, já tradicionalmente empregados nas aplicações médicas. As pesquisas buscam um barateamento dos custos, uma vez que, no momento, esses produtos precisam ser importados.
Este é o caso da liga metálica de titânio, nióbio e zircônio obtida no ano passado nos laboratórios do Instituto. Bressiani conta que essa liga foi desenvolvida em 92 no exterior e se trata da primeira criada com fins médicos. As ligas utilizadas em aplicações clínicas até então haviam sido pensadas de início para outras finalidades, principalmente para a indústria aeroespacial. O Centro conseguiu a liga num trabalho conjunto com a Faculdade de Engenharia Química de Lorena.