São Paulo (AUN - USP) - A estrutura da formação acadêmica nos cursos de matemática já pressupõe mestrado e doutorado quase que naturalmente. Ainda existe certo preconceito quanto às possibilidades de atuação fora da academia para esses profissionais. Eduardo Almeida Prado foi um dos que escolheram outro caminho. No final dos anos 90, após ter passado por Mestrado e Doutorado em Matemática, Prado abandonou a USP, onde dava aulas, para trabalhar no Banco Itaú.
A escolha foi vista com maus olhos por alguns de seus colegas no IME, Instituto de Matemática e Estatística; ele mesmo considera que a opção fora arriscada, pois, em 1998, não existia a cultura de se trazer matemáticos para trabalharem em instituições financeiras. Ao mesmo tempo em que havia um campo promissor para ser explorado, havia também um misto de resistência e cautela entre os próprios funcionários do banco, que viam com ressalvas a atuação de um matemático dentro da instituição.
Prado começou trabalhando com modelagem estatística: como transformar os numerosos dados levantados pelos bancos junto a seus clientes em informações capazes de definir o perfil desse cliente para, assim, sugerir de maneira eficiente produtos bancários, como as linhas de crédito, que graças à estabilidade econômica do país, começavam a se destacar no final dos anos 90 como nova maneira de o banco faturar.
Para resolver esse desafio, empregam-se conhecimentos matemáticos, estatísticos e computacionais, como probabilidade, métodos estocásticos e redes neurais que conseguem “adivinhar” quando e de qual produto o cliente precisa.
Atualmente, 50% das receitas do Banco Itaú provém das linhas de créditos e com isso sofisticaram-se as técnicas de modelagens, que agora dão conta de previsão de riscos e retornos, otimização da alocação de recursos (eficiência do capital investido). Mas esse trabalho não é simples: “Precisamos de pessoas qualificadas”, afirma Prado, que hoje é diretor de crédito da instituição e gere uma equipe de 70 pessoas, dentre as quais 40 são da área de Matemática, Estatística, Ciências da Computação ou Engenheiros com “dons matemáticos”. Esses profissionais possuem um conhecimento técnico e uma visão analítica que são bastante valorizados e reconhecidos nesse mercado.
Se a carreira fora da academia é melhor ou pior, Prado diz que são diferentes. Ele critica o fato de a academia, por questões didáticas, categorizar áreas do conhecimento, como se fossem estanques. “No banco, há um mundo sem compartimentos”. Ele considera bastante rico esse ambiente interdisciplinar, já que os problemas apresentados a ele e sua equipe não possuem etiquetas que dão pistas quanto à área a que pertence. O que interessam são as soluções.
Para os alunos, Prado deixou o conselho de que aproveitem a Universidade para experimentar possibilidades, tanto na academia quanto em fora dela, procurando aquilo que lhe traz mais satisfação. “O mercado está aquecido e há um campo de trabalho bastante amplo, cabe ao aluno, então, refletir sua decisão”.