São Paulo (AUN - USP) - A mudança de pH, escala numérica que define a acidez ou alcalinidade de uma solução, pode provocar efeitos fatais em seres vivos. Ela também diz se um alimento está ácido, neutro ou adstringente indicando que poderia estar em condições de consumo ou estragado.
Pensando na importância e ampla gama de utilidades para os químicos que um medidor de pH possui, Carlos A. Neves, pesquisador do Instituto de Química da USP (IQ), teve a ideia de montar o chamado pHmetro e lançar a proposta na rede. “A ideia era unir a eletrônica e a química, utilizando tanto o software quanto o hardware abertos”, explica o químico. Isso quer dizer que qualquer internauta é capaz de baixar o software, tanto para utilizá-lo como para copiá-lo, modificá-lo ou redistribuí-lo.
O software desenvolvido por Neves, escrito por uma linguagem de programação simples, contém informações que comandam o sistema eletrônico de medição. O comando é enviado ao chamado Arduino, uma plaquinha eletrônica de baixo custo, que pode ser usado para desenvolver objetos interativos, através da entrada de sensores ou chaves a ele conectados. Atualmente, é amplamente utilizado para as mais variadas funções, desde a criação de tecidos luminosos para fins estéticos (os e-textiles) até o controle de ritmo musical para guitarras.
Existem muitos circuitos de pHmetros na internet, mas o pHduino procura oferecer uma solução completa e aberta. Segundo o químico, que sempre teve interesse na área eletrônica, o interessante é o caráter colaborativo do projeto. “Está sujeito a pequenas e constantes contribuições. É a popularização da eletrônica, que não é algo complicado. Principalmente na internet, encontramos farta documentação sobre como utilizar o Arduino para as mais diferentes aplicações”, disse Neves. Há vídeos e textos tutoriais para iniciantes e amadores que fornecem o passo a passo para a compreensão do sistema.
Um pHmetro é baseado em um sensor de pH, que é normalmente um eletrodo de vidro específico para medir variações hidrogeniônicas, e um circuito eletrônico que mede a diferença de potencial elétrico entre o sensor de pH e um eletrodo de referência. O sensor de pH é encontrado comercialmente por preços acessíveis. Já o circuito eletrônico pode ser comprado separadamente com ampla faixa de preço. Existem também os pHmetros de bolso.
O primeiro protótipo saiu em agosto de 2009 e foi adicionado ao espaço de servidores de hospedagem de projetos do Google . Dessa maneira, desde esse período, o mundo inteiro pode acessá-lo. E isso inclui, literalmente, os quatro cantos do mundo. De acordo com Carlos, a partir do uso de um outro serviço do Google, o Analytics, monitora os acessos ao seu projeto. É possível, entre outras ferramentas, analisar a quantidade de pessoas que acessaram o link e em que cidade do mundo, bem como observar a frequência mensal em que acontecem. E tudo isso através de gráficos dinâmicos e diariamente atualizados. Desde o começo de 2011, a média de acessos vai de 30 a 70 acessos diários. O local do planeta que mais visitou o site nos últimos meses foi Moscou, seguido pela Europa central, com notáveis pontos nos Estados Unidos, especialmente as cidades Belmont e Seattle.
O intercâmbio científico por meio da internet é realmente eficiente. Os benefícios da Era Digital permitem que Carlos dialogue com pessoas, não necessariamente cientistas, por um grupo de discussões. Além de outros projetos que desencadearam do pHmetro, foi possível aprimorar o próprio original. O curioso é que a maioria das pessoas têm usado o pHmetro em aquários.
O projeto teve seu lugar na página Hack a Day, site em que são divulgados projetos ligados à informática e eletrônica e cujo funcionamento passa por uma avaliação crítica dos leitores. O software e o hardware livres vêm sendo bastante utilizados na internet, tendo como benefícios o fato de ser gratuito, fácil de encontrar e manusear. “Atende muito bem a proposta científica na questão do desenvolvimento da Ciência”, disse Neves.