ISSN 2359-5191

11/08/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 07 - Meio Ambiente - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Alerta contra poluentes pode salvar vidas

São Paulo (AUN - USP) - Imagine que você tem uma cardiopatia qualquer. Um dia, assistindo à televisão com sua família, vê a programação interrompida por um aviso de aumento da concentração de dióxido de enxofre na atmosfera. O que você faz? No Brasil, provavelmente nada. Por enquanto.

Uma nova pesquisa realizada no Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG-USP está traçando um perfil das condições meteorológicas da região metropolitana de São Paulo e associando os dados climáticos a estatísticas dos hospitais da cidade. O resultado é impressionante: a presença de uma massa de ar fria e seca sobre a cidade, associada à concentração de material particulado no ar aumenta em 20% o número de internações de crianças em hospitais públicos. E isso sem levar em conta outros poluentes mais perigosos, como o ozônio, o dióxido de nitrogênio, o monóxido de carbono e o próprio dióxido de enxofre.

A experiência norte-americana de alerta contra poluentes já é um sucesso e ajuda a salvar muitas vidas. A exemplo do que acontece quando um furacão, uma nevasca ou uma tempestade severa se aproxima, os aparelhos de televisão pré-programados para isso acendem automaticamente com uma mensagem de alerta para os moradores das casas. A diferença é a sutileza do aviso: enquanto o furacão pode arrasar uma cidade e matar todos os habitantes, a exposição prolongada ao dióxido de enxofre pode levar um cardiopata à morte.

O objetivo do levantamento é montar um sistema de alerta similar ao norte-americano aqui no Brasil, conta o professor responsável pela pesquisa, Fábio Luiz Teixeira Gonçalves. Um exemplo banal é a informação pelo rádio dos níveis de concentração de monóxido de carbono. Embora muitos motoristas não saibam, o CO pode provocar, quando em concentrações acima do tolerado, o prejuízo da visão e a diminuição dos reflexos e da capacidade de estimar intervalos de tempo – ingredientes ideais para um acidente de trânsito. Num futuro não muito distante, São Paulo terá redes digitais de rádio, capazes de emitir programação diferenciada a cada quarteirão numa mesma freqüência: cada carro seria informado simultaneamente sobre as condições de poluição no exato local em que se encontra.

O primeiro estudo, realizado por Fábio Cunha Conde, abrangeu somente crianças menores de treze anos da cidade de São Paulo, e analisou dados do início dos anos 90. As relações entre as concentrações de poluentes, a umidade relativa e a temperatura com o nível de morbidade infantil foi bastante significativa para impulsionar outros projetos de pesquisa na área, com o objetivo final de salvar vidas.

Mais recentemente, a médica Ana Paula Curi Amarante e a geoquímica Christine Buorotte fizeram um trabalho similar ao de Cunha Conde, comparando a ocorrência de asma no Hospital Universitário com a composição atmosférica. Mais uma vez o resultado foi bastante claro: os casos de asma aumentaram nos dias mais frios e com maior concentração de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos, resultado da combustão incompleta do óleo diesel.

Por isso não se assuste se daqui a alguns anos a moça do tempo anunciar as probabilidades de chuva, de frio, de asma, de bronquite e até mesmo de enfartes.

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