São Paulo (AUN - USP) - Uma pesquisa de iniciação científica, em fase de desenvolvimento, proposta pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e co-desenvolvida no Instituto de Química (IQ) da USP, se foca na evolução do tratamento de câncer, especialmente o de próstata, chamado de braquiterapia, através do qual são inseridos no tumor do paciente implantes contendo material radioativo, um método já bastante conhecido e utilizado no mundo, porém ainda pouco acessível para o público brasileiro, pois as fontes aplicadas na produção tem de ser importadas, aumentando o custo.
Pensando em possibilitar um maior acesso dos pacientes brasileiros ao tratamento, a graduanda de bacharelado em química, com atribuições tecnológicas, Roberta Mansini Cardoso, ingressou no projeto do Laboratório de Química Supra Molecular e Nanotecnolgia (LQSN). “Acabei aliando dois interesses, um era trabalhar na área da indústria e o outro era começar a minha iniciação em um laboratório que desenvolvesse resoluções de problemas, materiais que contribuíssem diretamente para a sociedade”, explica a aluna.
O início dos trabalhos não foi dos mais fáceis, uma vez que o LQSN não costumava se envolver em estudos do gênero, como conta Roberta. “O tema do trabalho foi bastante inesperado, meu laboratório não costumava atuar nessa área, e o projeto acabou sendo uma parceria entre este grupo e o Centro de Tecnologias das Radiações (CTR), do Ipen”. Por conta disto, a estudante revela que nem sempre é “compreendida” por seus colegas do Instituto. “Era complicado porque éramos pesquisadores de campos diferentes, como engenharia e física, além da química, então levou um tempo até conciliarmos as linguagens, mas acabou dando tudo certo.”
Durante a fase de adaptação, houve também necessidade de estudos referentes ao problema levantado, para depois se analisarem possíveis soluções. “Era preciso entender o sistemas de produção das ‘sementes’ radioativas, fazer cálculos para entender as reações químicas envolvidas nessa produção, e então selecionar os melhores reagentes a serem usados”, enumera Roberta. Nestes estudos, a pesquisadora aponta a importância de seu orientador, o professor Koiti Araki, do LQSN, recém nomeado membro da Academia de Ciências de São Paulo. “Quem o contatou foi a doutoranda, que na época fazia mestrado, Carla Daruich de Souza, com quem trabalho na iniciação. Ele ajudou a solucionar as questões anteriores e também me escolheu como ponte entre os dois laboratórios, passando a me orientar, juntamente com a professora Maria Elisa Chuery Martins Roselato.”
Para Roberta, o maior desafio do trabalho, intitulado Deposição de Ag125I sobre substratos de prata utilizados na fabricação de sementes radioativas para braquiterapia e que está em fase de conclusão, foi aprender a manipular corretamente os materiais, que poderiam acarretar diversos riscos à saúde. “Precisei de muitas leituras para entender mais sobre radioatividade, até para minha própria segurança, mas estava muito interessada em seguir adiante, pois ainda há muitos brasileiros precisando deste tipo de pesquisa.”
Este, inclusive, deverá ser o foco de Roberta durante sua carreira acadêmica. “Quero continuar com este trabalho, esperando sucesso não só pela tecnologia, mas pensando em gerar benefícios aos pacientes. É o que eu acho mais belo na pesquisa”, diz, sorrindo.