A preocupação em se gerar e aperfeiçoar formas de abastecimento energético que respeitam o meio ambiente e, ao mesmo tempo, diminuem a dependência dos combustíveis fósseis não é atual no Brasil. Essa foi uma das principais discussões abordadas pelos palestrantes da Conferência USP sobre Biologia Sintética para Biomassa e Produção de Biocombustíveis, que foi realizada no final de agosto na Cidade Universitária da USP. Essa conferência teve como uma das organizadoras Glaucia Mendes Souza, professora associada do Instituto de Química (IQ-USP) e coordenadora do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen), que também esteve ligado ao evento.
Segundo dados expostos por Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), cerca de 46% da energia produzida no Brasil é de fonte renovável, e nesse contexto, a cana-de-açúcar comporta 18% desse mercado. O Bioen, criado em 2008, trabalha nessa área, com laboratórios acadêmicos e industriais que promovem uma melhora nas áreas relacionadas à produção de bioenergia no Brasil. Com esse foco, a Conferência USP trouxe diversos palestrantes de várias instituições do mundo que possuem pesquisas em tecnologias para esse universo.
Além do Bioen, Glaucia é responsável pelo Laboratório de Transdução de Sinal – Sinalização e Redes Regulatórias em Cana-de-açúcar, do IQ. Nele, as linhas de pesquisa estão envolvidas com aumento da produtividade da cana-de-açúcar para a geração de biomassa. Para isso, o seu genoma está sendo sequenciado, e assim descobrir os genes associados a características agronômicas de interesse.
Também há a busca de como trabalhar com a tolerância à seca, como explica Glaucia: “No Brasil, a expansão da cana está indo para regiões aonde você vai ter que irrigar, e não queremos isso”, o que demonstra a preocupação com o uso da água, e de como preservar esse recurso.
O Laboratório já apresenta diversos resultados palpáveis em suas pesquisas. Como a identificação dos genes associados ao teor de sacarose, a criação de uma cana transgênica, que tem alteração nos níveis de sacarose e é tolerante a seca e, mais recentemente, uma parceria com a Microsoft, que visa à montagem do genoma da cana. “A Microsoft gostou da ideia e resolveu apoiar e desenvolver algoritmos para montar a cana”, diz a pesquisadora.
Esse tipo de estudo é estratégico tanto para o Brasil como para o mundo, visto que a utilização de biocombustíveis e da bioenergia mitiga a emissão de carbono, traz riquezas para as áreas rurais e aumenta o nível de educação nas cidades que estão envolvidas nesse agronegócio. Como afirma Glaucia Souza, “é importante para o Brasil modernizar a sua agricultura e trazer novas tecnologias. Essa conferência ataca a todos esses aspectos, mas em um nível de tecnologia muito avançada que a gente ainda não está aplicando na cana e ainda vai levar um tempo para conseguir, mas a gente tem que aprender e tentar fazer isso”.