Cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas da USP estão trabalhando em um novo remédio contra a malária que pode revolucionar o tratamento da doença. Trata-se de uma droga suicida, assim chamada por induzir o parasita a causar sua própria morte. A malária, doença causada pelo parasita Plasmodium falciparum, é transmitida pela picada do mosquito Anopheles, espécie muito comum em regiões de clima quente e úmido. O protozoário responsável pela malária é bastante adaptável, o que o torna resistente a diversas drogas e dificulta o tratamento.
As drogas em desenvolvimento pelos pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP se aproveitam do metabolismo celular do parasita para atingi-lo. A ideia é produzir uma pró-droga que seja capaz de entrar nos eritrócitos, as células sanguíneas humanas que são infectadas pelo protozoário. O protozoário “entende” que a pró-droga é um nutriente e metaboliza-a. O produto dessa metabolização é a droga ativa, a qual é responsável por inibir a atividade de diversas enzimas essenciais para a sobrevivência do parasita. Esse método é vantajoso porque se baseia na capacidade do protozoário de produzir vitamina B6. Como o ser humano não é capaz de produzir este nutriente, a droga é menos invasiva e mais resistente às mutações do Plasmodium.
A pesquisa, liderada pelo professor Carsten Wrenger, é desenvolvida pela Unit for Drug Discovery, (Instituto de Ciências Biomédicas II – USP), núcleo especializado no estudo de novas drogas. Wrenger, de nacionalidade alemã, veio ao Brasil para aprofundar a pesquisa iniciada na Alemanha, no Instituto Bernhard Nocht de Medicina Tropical. Na USP, sua equipe conta com dezenas de pesquisadores. A pesquisa já passou por inúmeros testes e está agora sendo testada em amostras de sangue fornecidas pela fundação Pró-Sangue Hemocentro. No entanto, por ser um estudo pioneiro e inovador, estima-se que sejam necessários cerca de cinco anos até a produção comercial da nova droga.
“O método é bastante inventivo porque é capaz de atingir um alvo no parasita, dentro da célula humana, sem afetar o hospedeiro”, explica o pesquisador Thales Kronenberger, orientando do professor Wrenger no ICB.
A malária é uma das doenças infecciosas que mais mata no mundo, atrás apenas da AIDS. No Brasil, a maioria das infecções ocorre na Amazônia, região que contabiliza cerca de 300 mil casos anuais. Entretanto, o número de infectados é baixo em comparação com outras regiões do mundo, como a África subsaariana, área onde a doença é considerada endêmica; estima-se que 90% dos casos de malária no mundo ocorram na região. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a malária mata uma criança africana a cada 30 segundos e afeta mais de 500 milhões de pessoas todos os anos.