ISSN 2359-5191

04/11/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 92 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Pesquisas Energéticas
Sementes de iodo desenvolvidas no Brasil serão usadas no tratamento de câncer
Sementes de iodo implantadas ao redor do tumor (Foto cedida por Maria Elisa Chuery)

O uso das sementes de Iodo 125 é um tipo de braquiterapia  tratamento que usa a radiação a curta distância para erradicar o tumor. Entre os tipos de câncer que se recomenda a aplicação deste método estão aqueles localizados na cabeça, pescoço, mama, próstata e tecidos moles. São diversas as fontes que se podem ser usadas na braquiterapia: iodo 125, paládio, ouro, irídio 192.

A semente de iodo 125 é um protótipo que foi produzido no Brasil por Maria Elisa Chuery Martins Rostelato, pesquisadora no Instituto de Pesquisa Energéticas e Nucleares (Ipen).  As sementes surgiram no exterior e as que são usadas no Brasil atualmente são importadas. O Instituto irá produzir sementes de iodo 125 desenvolvidas nacionalmente e, portanto, não terão de pagar royalties. Com isso mais brasileiros poderão usá-las para o tratamento e o custo será reduzido.

A tese de Maria Elisa sobre as sementes de iodo 125 ganhou uma menção honrosa do SUS (Sistema Único de Saúde e da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em 2006, que foi o Prêmio de  Incentivo em Ciência e Tecnologia. Para viabilizar a produção nacional, a pesquisadora e sua equipe estão desenvolvendo um laboratório automatizado de produção de semente de iodo 125. Estima-se que em dois anos o laboratório começará a produzir comercialmente.

A radiação gama emitida pelo iodo 125 é responsável por matar as células, tanto as do tumor, quanto as células sadias em volta. “A braquiterapia é melhor que a teleterapia [radiação a longa distância] nesse sentido, porque ela poupa tecido sadio. Ela [a semente] fica em contato com o tumor”. O resultado, segundo Elisa, é que como a semente age a curta distância, a área saudável atingida é reduzida.

Maria Elisa explica o como funciona o processo de radiação. “Quando irradio consigo que um elétron entre dentro do núcleo. Dessa forma o núcleo fica no estado excitado, que é o estado radioativo. A tendência é que esse átomo volte a ser o que ele era antes do estado excitado. Quando ele for voltar, ele joga, em forma de radiação, a energia a mais que havia entrado. É essa radiação que a gente aproveita e que mata as células”, explica Elisa.

As sementes são usadas para câncer de próstata e de olho. Como a energia emitida pelo Iodo 125 é baixa, esse material é ideal para ser usado em áreas delicadas. ”A radiação emitida pela semente de iodo caminha meio centímetro e é absorvida”. Como a próstata é um orgão pequeno que fica próximo à bexiga e a órgãos sensíveis, é ideal o uso das sementes de iodo no tratamento. “Dessa forma, você consegue dar a dose de radiação só na região do tumor, sem atingir os outros órgãos”, explica Elisa. São Introduzidas na região do tumor de 80 a 120 sementes de quatro milímetros.

Hoje o câncer mais incidente nos homens é o de próstata. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) 62,5% dos casos de câncer em homens são na próstata, um total de mais de 60 mil ocorrências em 2012.

A braquiterapia é indicada para casos de câncer que estão no início, e o procedimento com as sementes substitui a cirurgia.  “A braquiterapia não é uma cirurgia, você injeta as sementes com uma agulha.” O paciente é liberado em menos de 24 horas. Quando submetidos a cirurgia para a retirada do tumor, cerca de 80% dos pacientes ficam com problemas de impotência ou incontinência urinária. O uso das sementes de iodo 125 faz com que essa porcentagem caia para 20%. Além disso a braquiterapia apresenta um bom nível de aceitação em idosos e ausência de sangramentos. A importância de detectar o câncer no estado inicial, reforça a necessidade de realizar o exame de próstata periodicamente.

Quando inseridas na próstata o implante das sementes é permanente. A maior parte da energia da radiação vai ser emitida nos dois primeiros meses. Depois, a radiação emitida é muito baixa e chega a ser praticamente zero quando atinge um ano e meio. Quando usadas para câncer de olho, elas são retiradas após o tratamento.

A semente é formada por um fio de prata envolto por iodo 125. Este fio é colocado num tubinho de titânio (material biocompatível) e soldado dos dois lados. A prata serve como contraste para que o médico possa enxergar onde estão as sementes quando fizer o raio X.

Hoje, os tratamentos são feitos com semente importadas. Cada uma custa em média US$ 40. Como são usada aproximadamente 100 sementes para tratar um tumor, somente o material custaria em torno de US$ 4 mil, sem contar os custos hospitalares e com médicos especializados.

Atualmente o Sistema Único de Saúde não paga pelo tratamento com sementes de Iodo 125 importadas. Com o desenvolvimento de sementes nacionais a um custo menor, a Dra. Elisa pretende que o governo possa aderir a este tratamento.

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