O
sono é um processo orgânico vital para o corpo humano.
Especialistas dizem que o ser humano precisa, em média, de
oito horas de sono por dia para que, além de descanso físico
e mental, o corpo realize vários processos metabólicos
vitais. Estudos com pessoas privadas de sono mostram que o vigor
físico, a resistência a doenças, a atenção,
a coordenação motora e muitas outras atividades são
seriamente prejudicadas quando não se dorme.
Entre
16% e 40% das pessoas têm algum problema que prejudica o sono.
"Os insones trabalham pior, não conseguem desempenhar
as atividades cotidianas e podem ter problemas de saúde sérios,
que vão da depressão ao diabetes. Isso consome uma
quantidade imensa de recursos", alerta Flávio Aloé,
coordenador do Centro Interdepartamental de Estudos do Sono do Hospital
das Clínicas.
A insônia
tem íntima relação com outra síndrome
bastante comum, a depressão. Dulcinéia Borreri é
técnica administrativa da Unidade Básica de Saúde
do campus de Bauru da USP. Ela começou a sofrer de insônia
há seis anos. "No começo eu passava as noites
em claro para cuidar do meu marido, que estava doente. O desgaste
da doença dele me deixou deprimida. Ele infelizmente faleceu
há três anos, e desde então só durmo
com auxílio de remédios, e nunca por mais de cinco
horas e meia por noite", afirma.
"É
comum a pessoa não conseguir 'desligar' a mente na hora de
deitar na cama, e sem esse relaxamento é muito difícil
pegar no sono", explica o médico. Dulcinéia desenvolveu
esse problema nos últimos anos. "Chego em casa exausta,
deito na cama, mas a mente simplesmente não desliga. Quanto
mais eu penso em dormir, menos consigo relaxar para pegar no sono",
diz ela.
"Um
dos sintomas da depressão é a perda do sono. Porém,
quando a insônia tem outras causas, como em pessoas que trabalham
à noite, ela pode provocar a depressão e levar a outros
problemas, como o alcoolismo" explica Aloé. José
Mário Brás, vigilante do campus de Ribeirão
Preto, trabalhou por dez anos no período noturno. "No
começo, era difícil me manter acordado no expediente.
Depois de alguns meses acabei me acostumando, quando folgava não
conseguia dormir à noite. Ficava vendo TV até o amanhecer",
conta.
Brás
trabalhava 12 horas e folgava 36, um esquema que ele considerava
bom, mas que a longo prazo não valeu a pena. "Quando
eu folgava tentava de todo jeito ficar acordado durante o dia para
dormir a noite, aí era um cigarro atrás do outro...
Além disso eu bebia muito."
Outras
causas que levam à insônia são os distúrbios
de ansiedade, abuso de álcool e outras drogas, causas médicas
como problemas respiratórios e doenças próprias
do sono, entre elas o ronco e a apnéia noturna.
Além
dos antidepressivos, medicamentos chamados hipnóticos, que
induzem o sono, são utilizados em pessoas com insônia.
"Esses medicamentos são muito eficientes, mas não
podem ser usados continuamente pois causam tolerância e dependência,
por isso só podem ser utilizados sob restrita orientação
médica", alerta Aloé. "Tive que tomar o
hipnótico Diazepam e fiz um tratamento para alcoolismo. Agora
não bebo mais e consegui me transferir para o período
diurno, então estou dormindo bem melhor", afirma Brás.
Também é comum esse tratamento vir associado a terapias
alternativas como a ioga, a homeopatia e a acupuntura. "Além
dos remédios, eu passei a usar a homeopatia e a praticar
esportes para diminuir a minha insônia, e os resultados foram
bons", comenta Dulcinéia.
A insônia
infantil é mais rara, no entanto, mais perigosa que a adulta.
"Durante o sono são secretados diversos hormônios,
como o do crescimento e é também quando o cérebro
armazena em seu 'disco rígido' todas as informações
aprendidas durante o dia. Por isso, se a criança não
dorme bem tem seu desenvolvimento físico e psíquico
prejudicado", alerta Aloé.
Até
os dois anos de idade, a insônia infantil é geralmente
associada a outras doenças, como a asma e a apnéia
noturna. "Entre os dois e os seis anos, essas causas médicas
rivalizam com maus hábitos de sono que os pais involuntariamente
incutem na criança, como acostumá-la a dormir na cama
dos pais, ou com a televisão ligada", explica o especialista.
Já na fase de alfabetização, a insônia
infantil geralmente é associada a problemas como hiperatividade
e síndrome de déficit de atenção.
"A
primeira providência quando a pessoa percebe que não
dorme tão bem como antes é seguir algumas dicas que
garantem um sono mais saudável", afirma Aloé.
Essas regras são:
-
Evitar fumar e tomar café, chá preto, refrigerantes
à base de cola e qualquer item que contenha cafeína
ou nicotina
- Evitar refeições pesadas antes de dormir
- Fazer exercícios físicos, de preferência pela
manhã
- Tomar um banho morno pouco antes de dormir
- Fazer uma refeição leve (por exemplo, leite ou derivados),
pouco antes de dormir
- Evitar TV ligada, relógio, luz, barulho e qualquer tipo
de distração dentro do quarto
- Se não conseguir dormir após 20 a 30 minutos, não
fique tentando, saia do quarto e se distraia, lendo, por exemplo
- Nunca leve problemas, angústias e preocupações
para a cama, tente resolvê-los ao longo do dia.
Se o problema persistir mesmo com essas precauções,
é recomendável procurar orientação médica.
O Centro Interdepartamental de Estudos do Sono do Hospital das Clínicas
é considerado um dos melhores lugares do Brasil para se tratar
da insônia. "Para ser atendido no laboratório
é necessário se cadastrar e passar por uma triagem.
Depois de diagnosticada a insônia, o paciente vai ter seu
sono monitorado por um sistema de última geração
que estabelece com exatidão qual o problema. A partir daí,
nós determinamos o tipo de tratamento mais adequado para
cada caso, qual medicamento será usado, quais terapias alternativas
podem ser mais eficientes... Enfim, nós abordamos o problema
de uma maneira bastante ampla, e os resultados são muito
eficazes", afirma Aloé.
Além
do Centro do HC da capital, o Hospital das Clínicas de Ribeirão
Preto e a Universidade Federal de São Paulo mantêm
laboratórios similares e que prestam atendimento gratuito
ao público.
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serviço
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Centro
Interdepartamental de Estudos do Sono
do Hospital das Clínicas de SP
t. (11) 3064-2458 ou 3069-6518
Drs. Flavio Aloé e Stella Tavares
Laboratório
de Estudos do Sono
do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto
t. (16) 602-2826 ou 602-2827
Dr. José Roberto Santiago
Instituto
do Sono da Unifesp
t. (11) 5539-6933
Dr. Sérgio Tufik
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