
Durante a ditadura, Dallari atendia
sindicalistas e demais perseguidos
políticos.
Um dia, foi levado até a cela onde
estavam esses colegas, que se empolgaram
com sua presença. “Nosso advogado
chegou!”, comemoraram. “Pois é,
mas nesse dia, era eu quem estava chegando
preso”, lembra.
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Nascido em 31 de dezembro de 1931, Dalmo
de Abreu Dallari é considerado
hoje um dos maiores juristas brasileiros.
Professor e ex-diretor da Faculdade de
Direito da USP, autor de Elementos
da Teoria Geral do Estado, ativista
da histórica Comissão Pontifícia
de Justiça e Paz na década
de 70, membro da Comissão Internacional
de Juristas e ex-membro da Cátedra
Unesco/USP pelos Direitos Humanos. Entre
outros títulos nacionais e internacionais,
o professor Dallari demonstra que a participação
social e política não depende
do status acadêmico. Qualquer um
pode dar sua contribuição
participando de questões locais
e cotidianas. Quer ver outro cargo do
professor? Vice-presidente da Associação
dos Moradores do Bairro Vila Nova Conceição.
Quem não pode atuar no próprio
bairro?
Dallari cresceu em Serra Negra, interior
de São Paulo, junto com os pais
e quatro irmãos. A família
se mudou para a capital paulistana apenas
em 1947, com o objetivo dos filhos estudarem.
Só os filhos, a filha não. “Era
um problema da mentalidade da época”,
lembra.
O pai, descendente de italianos, tinha
uma sapataria. Era seu costume ler o jornal
e explicar as notícias para a antiga
clientela, composta principalmente por
imigrantes que trabalhavam na roça. “Nessa época,
eu ainda era um toquinho, mas ficava ouvindo
as conversas”, conta Dallari. “Eu fixei,
por exemplo, que meu pai falava contra
Getúlio, e que meu tio morreu na
luta de 32.” Essas informações
motivaram Dallari, aos oito anos, a corrigir
a professora do ginásio onde estudava,
em Serra Negra. Quando ela mencionou para
a classe o presidente Vargas, ele interrompeu: “Presidente
não, professora. Ditador!”.
Em São Paulo, os irmãos
completaram o chamado curso clássico,
equivalente ao ensino médio. “Quando
deixei Serra Negra, já queria estudar
direito. O ambiente familiar me influenciou,
claro. Além da liderança
política que vi em meu pai, minha
mãe era uma leitora assídua.
Ela admirava, inclusive, a tradição
da faculdade do Largo São Francisco
e seus poetas: Castro Alves e Álvares
de Azevedo.”
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