
Entre 1986 e 1990, Dallari foi diretor da FD e fechou o departamento
feminino, alvo de protestos de alunas que julgavam a existência
da sala uma segregação. Quase 40 anos antes, o mesmo
Dallari apoiou as colegas da turma que solicitaram um espaço
reservado, pois eram a minoria.
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O ingresso de Dallari na Faculdade de
Direito (FD) da USP aconteceu em 1953.
Com a graduação em 1957
e os constantes aperfeiçoamentos
na carreira, chegou à livre-docência
em 1964. Publicou 14 livros, associando
o direito e a prática social.
Entre as publicações, está Elementos
da Teoria Geral do Estado, obra
consultada por dez a cada dez estudantes
de direito. “E eu escrevi esse livro porque
percebi que faltava algo desse assunto
mais próximo da realidade. Antes,
era tudo muito abstrato.”
O exercício da advocacia acompanhou
o professor por muitos anos. Foi solicitador
da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil)
no quarto ano da graduação.
A convite do jurista Alfredo Gallo Júnior,
seu antigo professor de português,
foi trabalhar em um escritório
na Praça da Sé. “Tive contato
com audiências, juízes e
acumulei um bom conhecimento. Meu estilo
de advogar veio do Gallo Júnior,
um mestre para mim.”
A ligação de Dallari com
o operariado surgiu quando o estudante
trabalhava no escritório de advocacia
no Centro de São Paulo e assistiu,
ao vivo, à pancadaria em cima
dos trabalhadores durante reuniões
grevistas na Praça da Sé e
Praça João Mendes. “Era
revoltante ver a polícia a cavalo
batendo nos operários. Nunca fui
comunista nem tive simpatia porque sou
cristão. E como cristão,
preciso ser solidário.”
A defesa dos direitos humanos, englobando
o movimento do operariado, foi marca
de sua carreira. Na FD, essa postura
chamou a atenção do conservador
meio acadêmico, que chegou a excluir
o professor de muitas aulas.
Sabendo dessa disposição
que Dallari manifestava ao longo dos
anos, D. Paulo Evaristo Arns o procurou
em 1972. O governo militar estava no
auge das intervenções violentas,
prisões arbitrárias e sumiços
instantâneos de opositores e suspeitos.
O cardeal havia decidido montar uma Comissão
Pontifícia de Justiça e
Paz em São Paulo, seguindo exemplo
do Rio de Janeiro, e convidou o professor
para presidir a organização. “Nessa
altura, eu já era bastante procurado
como advogado para ajudar pessoas que
tiveram parentes e amigos presos. Depois
que me tornei presidente da comissão,
esse trabalho ficou mais fácil,
porque eu ia à polícia
e avisava o delegado: ‘se esta pessoa
seqüestrada não aparecer,
ou aparecer morta, o Papa vai ficar sabendo
ainda hoje'! Claro que era blefe, mas
podia ser verdade. Se a comissão
tem o título de Pontifícia, é um
comitê do Papa.” |