O mercado de trabalho permite escolhas?


 

 

 

 

 


A interdisciplinaridade reivindicada por Schwartz é também sugerida por Chahad como a porta de entrada para o mercado de trabalho: “Hoje, requer-se um tipo de educação mais polivalente, que forme um indivíduo capaz de fazer várias coisas. O Rogério Ceni bate falta, bate pênaltis e, se o colocarmos para atuar como beque central, ele provavelmente vai se sair muito bem”, brinca o professor.

Em economia, é sempre muito arriscado fazer previsões. Apesar disso, há oito anos, Gilson Schwartz aceitou o desafio de escrever um livro intitulado As Profissões do Futuro. Na obra, que teve a segunda edição atualizada lançada no ano passado, o professor aponta uma modernização do emprego no Brasil, com grande crescimento do setor de serviços, bem como da informalidade, potencializada pela internet. Além disso, ele ressalta a importância da inovação. Da mesma forma, José Paulo Chahad arrisca indicar algumas áreas como as mais promissoras: “A informática, o comércio exterior, a agroexportação, áreas ligadas à medicina, que têm sempre o seu espaço garantido, a biotecnologia, as ciências ambientais, a obstetrícia”.

“Você vê governos falando que estão investindo mais em educação e em tecnologia, mas isso não aparece nas oportunidades de emprego. Se eu investir mais em educação, mas no modelo errado, eu vou continuar produzindo pessoas que não são desqualificadas, mas são não-qualificadas para as oportunidades que estão aparecendo.” Gilson Schwartz

© Cecília Bastos
“Você tem que entrar dentro de uma dinâmica de demanda, que não é a mais confortável, sem menosprezar o que você quer fazer. Esse olhar duplo é uma coisa difícil, é uma nova administração.” Yvette Lehman

Acervo pessoal de Maria Helena Goldman
“Vejo muitas pessoas que forçaram a barra, fizeram o que tinha mais status e não o que queriam, e agora estão infelizes.” Maria Helena de Souza Goldman

 

Mas a escolha profissional do jovem não deve se limitar apenas àquilo que o mercado determina. A realização pessoal deve ter tanto peso quanto a suposta garantia de sucesso que algumas carreiras possam oferecer num determinado momento. É isso o que defende Yvette Lehman, professora do Instituto de Psicologia, especialista em Psicologia Social e do Trabalho: “Quando a idéia de adaptação ao mercado de trabalho fica em primeiro plano, há um grande prejuízo para o jovem, porque a sobrevivência, o salve-se quem puder se sobrepõe àquilo que ele quer ser, ao que vai fazê-lo feliz”.

Maria Helena de Souza Goldman concorda. Professora do Departamento de Biologia da USP de Ribeirão Preto, ela conta que quando decidiu estudar biologia, o curso enfrentava um preconceito social muito grande. Apesar disso, ela enfrentou as resistências e fez aquilo que queria. “Hoje, estou muito satisfeita. Quando se trabalha com satisfação e dedicação, consegue-se ser bem-sucedido. Vejo muitas pessoas que forçaram a barra, fizeram o que tinha mais status e não o que queriam, e agora estão infelizes.”

A bióloga ressalta, ainda, que, em sua opinião, os jovens estão muito acomodados atualmente. Além disso, ela nota que o vestibular tem sido supervalorizado, transformado num fim em si mesmo. “Os alunos chegam à faculdade achando que já cumpriram sua missão, quando, na verdade, estão apenas começando.”

Yvette Lehman corrobora a percepção de Maria Helena: “Passar no vestibular é um rito de iniciação, é a passagem para o mundo adulto (ter a chave de casa, poder sair à noite). Para o jovem, essa passagem é o mais importante. Mas essa é uma estratégia infantil, porque deixa de lado o conteúdo social daquilo que ele vai fazer, em função apenas do status. Numa situação como essa, a possibilidade de fracasso é muito grande”.

Para a psicóloga, diante de um mercado cada vez mais instável e exigente, o jovem deve, sim, assumir uma posição de versatilidade, sem, no entanto, abandonar completamente as coisas às quais tem mais afeição. “Acho que o que salva o jovem hoje é buscar criar oportunidades na área que mais o atrai. Ele não deve esperar que o mercado já dê um projeto pronto, mas agir de forma criativa, para defender o que gosta e preencher as brechas existentes”, adverte.

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