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O primeiro produto de nossas pesquisas foi o Mapa das Artes da Cidade Tiradentes, fruto do projeto Cartovideografia Sociocultural da Cidade Tiradentes, promovido pelo Instituto Pólis com apoio do Centro Cultural da Espanha em São Paulo. O objetivo do projeto foi, em seus próprios termos, “contribuir para o fortalecimento da cidadania cultural dos moradores da Cidade Tiradentes, revelar e potenciar os saberes, fazeres e poéticas culturais do bairro pela ampliação da visão dos próprios agentes locais sobre suas práticas”.
A Cartovideografia mobilizou um grupo de artistas moradores da região, com a finalidade de promover um intercâmbio de conhecimento sobre as práticas culturais do território com base na metodologia da ausculta audiovisual, que previa “provocar, no sentido de estimular, as narrativas próprias dos atores locais, de forma a substituir as tradicionais entrevistas com questionários”. O intuito era “desvelar as diferentes identidades e subjetividades locais, suas afetividades e conflitos”.
Os textos, fotos e vídeos produzidos ou recolhidos pelos pesquisadores-moradores junto aos artistas da localidade foram postados no mapa virtual interativo www.cidadetiradentes.org.br. O site apresenta esses materiais utilizando-se da tecnologia Mashup, que cruza plataformas virtuais como Google Maps, YouTube, Flicker para criar um novo serviço personalizado. Organizado sobre um mapa físico e geográfico do distrito da Zona Leste, nele é possível localizar pessoas, grupos, espaços e eventos relacionados às linguagens da música, dança, audiovisual, artes plásticas, literatura e teatro. Os olhares dos artistas locais sobre temáticas como trabalho, juventude, arte, poder público, entre outras, são apresentados no site em tags audiovisuais. O mapa também apresenta a forma por meio da qual os moradores de Cidade Tiradentes organizam o espaço: em 22 setores, nomeados pelos moradores que lá chegaram na década de 80, vindos de diversos cantos da cidade, muitos deles removidos de regiões centrais da cidade em função de processos de especulação imobiliária.
O intuito do Mapa das Artes é fazer que as produções e espaços culturais do distrito possam ser conhecidos e valorizados pelos seus próprios habitantes, fortalecendo, assim, a cidadania cultural local, a economia solidária, a produção colaborativa em rede, a defesa do espaço público e do bem comum, e a comunicação entre artistas, produtores locais e moradores.
No processo do mapeamento constituiu-se a Rede de Artistas da Cidade Tiradentes, grupo de artistas e ativistas interessados em organizar reivindicações ao poder público local, pensar melhorias para a produção e consumo cultural do distrito e refletir sobre soluções criativas para os desafios enfrentados.
A história de vida de cada um dos pesquisadores envolvidos no projeto foi o ponto de partida para a produção do mapa que considerou, entre os principais critérios de reconhecimento das práticas artísticas da região, a subjetividade dos pesquisadores.
Nascidos, em sua maioria, na década de 1980, os artistas pesquisadores têm forte vínculo com o Hip Hop. Tal movimento, que hoje não é hegemônico no distrito – que experimenta a “invasão” do funk – é fortemente representado no Mapa das Artes. A significativa presença dos grupos artísticos mais politizados e ligados ao Hip Hop pode ser entendida como resultado direto da relação dos pesquisadores-moradores com a história e as transformações do distrito, em especial da arte de rua, da organização das práticas culturais e da sociabilidade nos espaços públicos.
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