A novela “Uma estória de amor”, de Guimarães Rosa, pode ser interpretada como uma consideração filosófica sobre a existência e sua finitude, e sobre os trabalhos do amor, se comparada com O Banquete, de Platão, e sua teoria da natureza e qualidade de Eros. Vários críticos atestam as leituras de Platão por Rosa, e uma abordagem comparativa entre os dois textos revela o reflexo das ideias platônicas ficcionalizado ao longo da festa de Manuelzão, concorrendo para produzir um comovente relato da complexidade e contradições do amor entre o povo simples do sertão.
Tomando por base as afirmações feitas por J. G. Rosa acerca de Platão e do diálogo Fedro − "Vamos ler Platão. Lá está tudo!" e "O livro mais belo: o ‘Phèdre’ de Platão!" −, nos propomos neste trabalho a realizar uma leitura de Tutaméia, a partir de dois aspecto da prosa dialógica dos diálogos platônicos: o estatuto filosófico do proêmio na composição dos lógoi e o estatuto dos animais na apreensão do conhecimento.
Examinam-se neste trabalho os elementos platônicos presentes no romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. São extratos intertextuais tomados especialmente aos diálogos Banquete e Fedro. Concedemos relevo, nessa análise,ao papel do amor e da dialética ascensional em meio à escrita fragmentária do romance, que impõe ao tema mudanças significativas, aproximando-o de uma experiência trágica.
Guimarães Rosa foi o escritor que, como poucos, soube explorar as potencialidades do olhar na experiência de seus personagens para que estes criassem, a partir daí, um universo simbólico para a renovação de si mesmos e do mundo que os cerca. O aprendizado do olhar em Rosa pode ser comparado com o processo em que o prisioneiro, na alegoria da caverna, liberta-se, e sucessivamente passa de um estado de ignorância, em que via apenas o ilusório e o aparente, para a visão das formas puras e inteligíveis. Platão compara o sol com a forma do Bem. Um texto do escritor mineiro ilustra esse aprendizado do olhar em paralelo com a visão platônica: a novela Campo geral. Nela, o personagem central é uma criança míope de oito anos que, num processo de descoberta do mundo, renova o seu olhar a cada momento, a exemplo do prisioneiro liberto da alegoria da caverna.
Este ensaio pretende analisar as concepções de memória presentes no conto Nenhum, Nenhuma, de João Guimarães Rosa. Partimos da hipótese de que o escritor mineiro utilizou as ideias de Platão e Bergson na construção deste conto.