"O baile rosiano: alguns nomes e outros recados" dialoga principalmente com a obra de Ana Maria Machado, Recado do nome. A partir de "Campo Geral", são analisados alguns nomes de Corpo de Baile, com o intuito de dar um pequeno, todavia importante, passo na compreensão do enigmático bailado. Este estudo abarca ainda a análise de algumas correspondências entre os personagens das diversas sagas, que acabam por revelar a mundividência rosiana. Pode-se verificar, enfim, que o destino dos seres conectados com a vida em si mesma, entusiastas da Arte e da Alegria, se contrapõe ao dos indivíduos imersos apenas em labor e pesar.
ste artigo propõe uma análise da representação da infância em Campo Geral, de Guimarães Rosa, levando em consideração a abordagem sócio-histórica explorada pelo narrador. Neste sentido, apresenta-se uma infância na qual se mesclam elementos antigo-medievais e modernos em constante ciclo de tensão, conforme Jaques Le Goff. Ao analisar o conceito de infância com essa perspectiva, sem refutar os elementos míticos e místicos, consideramos que os componentes contraditórios da narrativa não são solucionados, mas potencializados por meio de ritos de passagem experimentados pelo protagonista Miguilim: os medos, os conflitos, as perdas e as separações que fazem parte dessa concepção antropológica da infância na narrativa rosiana.
Se a representação artística é concebida não puramente como reprodução pictórica ou literal das imagens apropriadas pelo indivíduo, mas como um processo de (re)elaboração das formas, a paisagem, na literatura, pode ser compreendida, então, como um reflexo de quem olha. No entanto, para tal compreensão, se faz necessário entender uma natureza que represente além de um cenário ou plano de fundo das ações dos personagens. É importante refletir acerca de uma representação literária que conceda à natureza o papel de elemento constitutivo da obra, ou seja, como elemento narrativo capaz de transmitir e incorporar significados relevantes ao conteúdo das obras. Assim, o vínculo da representação da natureza aos demais elementos constitutivos da obra é necessário para reconhecer em algumas obras a presença da natureza como atuante e imprescindível no transcurso da narrativa. Nesse aspecto, o artigo propõe um breve estudo da representação literária da natureza para servir como auxílio para as análises da obra “Campo Geral”, de Guimarães Rosa, no que tange à representação da natureza nessa obra, porquanto, em “Campo Geral”, a paisagem é erigida ao patamar de representação das descobertas do personagem Miguilim.
O objetivo principal deste artigo é analisar a alegria e o riso infantil na obra de João Guimarães Rosa, “Campo Geral”, pela perspectiva infantil existente na narrativa. Narrada em terceira pessoa, a história de Miguilim é orquestrada por um narrador onisciente seletivo (LEITE, 1994), em cuja construção híbrida (BAKHTIN, 2010) apresenta a narrativa a partir da perspectiva da criança. Nesse sentido, buscaremos observar e analisar neste estudo a percepção infantil acerca do riso e da alegria. Partindo das considerações de Mikhail Bakhtin (2013) e de George Minois(2003), intentaremos perpassar a história do riso e do risível a fim de reconhecer seus papéis sociais, o que nos auxiliará a analisar a temática e a função do riso na obra em estudo. Dessa forma, alinhando-nos com essa narrativa roseana, levaremos adiante a pesquisa proposta sobre a análise do riso infantil nessa obra para tentar compreender o papel do riso, bem como a sua função na superação das dificuldades e no processo de desenvolvimento da personagem Miguilim. Buscaremos, por fim, analisar como o riso infantil se converte nessa narrativa em elemento fundamental para a restauração da dor e da morte.
O artigo analisa Campo geral, primeira das sete novelas que compõem Corpo de baile (1956), de João Guimarães Rosa, sob a perspectiva da Ecocrítica, ramo dos Estudos Literários que se ocupa das relações entre literatura e meio ambiente. Buscando entender de que forma a natureza é representada na obra e como o texto nos leva a refletir sobre os valores em jogo no enredo, especificamente a relação entre natureza, saberes tradicionais e religiosidade – questões propostas pela Ecocrítica –, a análise vai sendo tecida. Observa-se, para tanto, a reorganização que o protagonista faz da realidade cultural: sua tentativa de integrar cultura e natureza reflete a recusa em viver uma vida pautada numa forma de subsistência baseada na brutalidade do mundo adulto.
Acompanharemos os ciclos de desenvolvimento de Miguilim aproximando os problemas enfrentados por ele com esta questão filosófica: o fundamento dos nossos juízos bonito/feio, certo/errado. Ela se desdobra nesta outra, não menos filosófica: a validade ou não das categorizações dicotômicas com que apreendemos a realidade, já que a divisão é da lógica e não da realidade. Quatro episódios da trajetória do menino ocuparão o centro de nossa análise: discussão se o Mutúm é lugar bonito ou feio; desejo de obter aprovação e evitar censura ao atravessar por entre vacas; vontade de saber se é malfeito ou bem-feito entregar à Mãe o bilhete de Tio Terêz; luto da morte do Dito e seu fracasso de tentar encontrar o vivo no morto.
Em Campo Geral, primeira novela de Corpo de Baile (1956), Guimarães Rosa, há uma tensão entre ficção moderna e recuperação da narrativa arcaica, bem como entre ingenuidade e maturidade. Na personagem de Miguilim, encontramos uma representação moderna que traz subjetivação complexa e o ponto de vista de uma criança, através dos quais se apresenta uma matéria arcaica, a vida de um menino em uma fazenda remota do sertão mineiro. Na narrativa de iniciação, as etapas (doença, sofrimento, perda...) tendem a ser subsumidas como partes da trajetória. Há uma cena de violência extrema, no entanto, quando o pai agride o filho, que se singulariza como cicatriz não superável para se tornar etapa necessária na formação.
O presente artigo traz uma reflexão a respeito da construção da memória de uma personagem infantil, em uma narrativa de ficção, influenciada pelas memórias coletivas de seus familiares e agregados. A leitura do conto Campo Geral (2001), de João Guimarães Rosa, motiva tal discussão, tendo em vista que o protagonista, com o nome de Miguilim, é um menino sensível que se apoia em suas percepções sensoriais e nos relatos dos que com ele convivem para edificar a sua própria memória e para se iniciar na compreensão do meio em que vive. É através dos sinais externos, do espaço e da memória coletiva que a personagem constrói e desconstrói a sua estória e a de sua família. O protagonista convoca as lembranças para criar um elo entre as suas sensações e a realidade que o cerca, ainda que sejam recordações oriundas de uma mente demasiadamente jovem e, por isso mesmo, pouco experiente. A fim de compreender a formação da memória, nessa fase da vida, faz-se necessário o suporte teórico dos autores Iván Izquierdo (2011), que trata da memória sob a perspectiva da neurociência, Alan Baddeley (2011) e seus colaboradores, que pesquisam sobre a formação da memória e Maurice Halbwachs (2015), que relaciona a aquisição da memória ao contexto social. Além desses estudiosos, pesquisadores como Doreen Massey (2008) e Gaston Bachelard (s/d) também contribuem com seus estudos, ao refletir sobre a importância do lugar e do espaço. Através desse entrelaçamento de teorias, pode-se vislumbrar algumas formas de aquisição e conservação da lembrança infantil.
Este trabalho dá continuidade a um estudo, publicado em 2008, que investigou as fontes gregas em "Campo geral", primeira novela de Corpo de baile, de Guimarães Rosa. Naquela ocasião buscou-se demonstrar como Guimarães Rosa trabalhou na construção daquele universo ficcional e dos personagens que desempenham papel decisivo nos acontecimentos que o agitam, a partir de concepções míticas, em geral, e gregas antigas, em particular. Prosseguindo na mesma linha de interpretação, este trabalho estende a investigação a uma figura periférica, mas que desempenha uma função importante na novela. Trata-se de Vovó Izidra, personagem que, como se espera demonstrar aqui, melhor se revela em suas relações com outras duas, cada uma a seu modo, suas oponentes: Nhanina, a mãe de Miguilim, protagonista da estória, e Mãitina, velha negra, agregada imemorial da família. Quando observadas em conjunto, essas personagens parecem representar forças cósmicas ? ou deuses ? que se confrontam.
Utilizando-se da teoria da Significação, como objeto primeiro da Semiótica, este artigo tem como finalidade discutir a representação da morte, em “Campo Geral”, de Rosa, em diálogo a escultura La Pietà, de Buonarroti, a fim de provocar o processamento da leitura literária. Como recurso metodológico trabalhou-se a pesquisa bibliográfica, de cunho analítico. O signo morte foi re-visitado com base na definição de transcendental, como um rito de passagem. Apreendeu-se, nos resultados, os percursos gerativos de sentido, através das imagens mental e plástica da morte, que, através de um ground, se reconstrói nos dois recursos midiáticos. Concluímos que é possível apreender a relação entre o constructo do signo morte na narrativa literária Campo Geral e na escultura La Pietà, considerando que o texto literário, pelas características que lhe são peculiares também sugere imagens, figuras, formas, paralelos, confrontos, correspondência com a escultura, tornando-se possível estabelecer construção de sentidos, leitura crítica, ao colocá-las dentro de uma história ou de um contexto. O plano do conteúdo sintetizado em ambos os textos, símbolo do signo disfórico morte, tem origem no imaginário, pois os textos são fictícios, representação.