Este artigo pretende desenvolver uma análise comparativa entre a passagem em que o personagem Gavião-Cujo transmite aos jagunços a notícia da morte de Joca Ramiro em Grande Sertão: veredas e a música “Notícia do Norte” do grupo paulista Nhambuzim. As relações intersemióticas devem ser exploradas de modo a proporcionar novas possibilidades de estudo, trabalho e interpretação. Para tanto, foi utilizada a semiótica como ferramenta teórica a partir da perspectiva de autores como Hildo Honório Couto e Lúcia Santaella, além de outros que nos ajudaram no aspecto musical, como Murray Schafer e James Russel. Ao analisarmos o processo intersemiótico, bem como ao avaliarmos até que ponto a música se assemelha ao romance, chegamos à conclusão de que esses sistemas são complementares e ganham novas dimensões quando contrapostos.
Análise comparativa de Maleita, de Lúcio Cardoso e do conto “Sarapalha”, de Guimarães Rosa, tendo como ponto de partida a expressão do outro como doença. Desse modo pretendo discutir como os estranhos são tomados como algo negativo nesses textos a partir dos sujeitos que enunciam o discurso.
O escritor brasileiro, Guimarães Rosa, e o moçambicano, Mia Couto, procuram, a partir da narração performática, materializar no texto literário a tradição oral, retomando em suas produções literárias a performance narrativa dos contadores de estórias de ambas as culturas. O objetivo deste estudo é propor um diálogo entre os livros de contos: Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, e Vozes anoitecidas, de Mia Couto, na perspectiva de seus narradores. Apesar da diferença espaço-temporal que separa essas duas obras, elas mantêm entre si um intenso diálogo. Ambas são semelhantes no que se refere aos recursos utilizados em sua construção como, por exemplo, a singularidade da linguagem, a prosa poética e a tradição oral, fio condutor dessas duas narrativas. Evidenciaremos de que forma a tradição oral está inserida na criação estética desses escritores. Para isso, serão apreciados os contos “Luas de Mel”, de Guimarães Rosa, e “Patanhoca, o cobreiro apaixonado”, de Mia Couto.
ste artigo propõe uma análise da representação da infância em Campo Geral, de Guimarães Rosa, levando em consideração a abordagem sócio-histórica explorada pelo narrador. Neste sentido, apresenta-se uma infância na qual se mesclam elementos antigo-medievais e modernos em constante ciclo de tensão, conforme Jaques Le Goff. Ao analisar o conceito de infância com essa perspectiva, sem refutar os elementos míticos e místicos, consideramos que os componentes contraditórios da narrativa não são solucionados, mas potencializados por meio de ritos de passagem experimentados pelo protagonista Miguilim: os medos, os conflitos, as perdas e as separações que fazem parte dessa concepção antropológica da infância na narrativa rosiana.
Este artigo tem por objetivo refletir sobre os romances O último suspiro do mouro, de Salman Rushdie, e Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, a partir de algumas estratégias estruturais dessas narrativas, tais como a do manuscrito encontrado e/ou que se escreve enquanto se ouve o narrador contar a estória; a matéria vertente, ou seja, o que se conta; o agenciamento de diferentes vozes narrativas; o uso de documentos apócrifos que revelam a elaboração de uma memória imaginada; e o recurso ao fantástico, bem como a recriação crítico-criativa da língua do colonizador. Tais estratégias se organizam a partir de uma voz narrativa em primeira pessoa – Moraes Zogoiby e Riobaldo –, os quais, na condição de filhos bastardos ou supostamente bastardos, realizam uma contraescrita da história, de modo a produzirem uma escrita também bastarda, ou seja, o rerrelato, como afirma Salman Rushdie, ou a estória, como argumenta Guimarães Rosa. Tais procedimentos resultam na descolonização da voz narrativa e instituem o que tenho denominado escrita bastarda.
Este trabalho tem por objetivo realizar uma análise comparativa da atuação de Soropita e de Iládio na novela “Dão Lalalão, (o Devente)”, presente em Noites do Sertão, para evidenciar de que forma o embate entre essas duas personagens, ao final da narrativa, parece encenar um ritual que institui a crise do poder coronelista, porque suprime a proximidade do trato diário e institui um distanciamento que supostamente evidencia a entrada da lei do Estado no sertão. Para tanto, toma-se como referencial teórico a noção de homem cordial, cunhada por Ribeiro Couto e discutida por Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil.
A literatura e a história modernas são discursos legitimadores. Relatos que oficializam vozes capazes de ameaçar a integridade de uma genealogia. Este trabalho tem por objetivo analisar, na literatura de Guimarães Rosa, de que forma personagens ditas bastardas são enunciadoras de discursos que rompem com a linearidade discursiva, fendem genealogias para nelas inserirem, na forma de suplemento, suas experiências enquanto agentes que são de uma narratividade, cuja visibilidade se torna possível somente quando os metarrelatos têm sua soberania posta em questão.