Aprimeira parte do estudo consiste em apresentar o aspecto metodológico,
que reporta aabordagem de Angel Rama de uma America Latina
como urn projeto aser delineado pelo trabalho intelectual atraves do conceito da
"transculturação", entendendo o mesmo como um processo de perdas, seleções,
redescobertas e incorpora~6es entre duas culturas que entram em contato. Asegunda
parte corresponde a aplicação metodológica em Grande sertao: veredas,
mais especificamente, no episódio do julgamento do personagem ze Bebelo
quando Riobaldo, de fato, efetua uma travessia, em que passa de jagunço a chefe,
mostrando-se, pela letra, se mostra tanto do lado tradicional do sertao quanto do
lado da modernidade proveniente consubstancialmente das urbes.
O seguinte artigo tem como objetivo analisar o romance de Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas, através de um sertão ontológico. Em um primeiro momento, esse sertão é dividido por dualidades que atingem o ser tanto nas questões mais pontuais do romance – Os Gerais e a Bahia; os bandos de Joca Ramiro e do Hermógenes –, quanto nas mais complexas – bem e mal; luz e trevas; deus e o diabo. Conforme a narrativa vai se desenvolvendo, essas questões dialéticas, simbolizadas pelas margens do rio São Francisco, são vencidas, deflagrando um processo chamado Ritmanálise. Esse movimento tem constante relação com o termo travessia, a chave do romance para a compreensão da obra, e palavra reveladora do sertão ontológico, interior de Riobaldo, o ser-tão.
Este ensaio, originalmente uma monografia para a cátedra de estudo de autor da graduação em Letras da UFRGS, foi escrito sob orientação da profa. Ms. Sueli Barros Cassal e obteve conceito A desta professora. Trata-se de um ensaio sobre como Riobaldo, personagem central do romance de Guimarães Rosa, atravessa os vários estágios evolutivos da humanidade, indo da animalidade mais pura até sua descoberta do divino em si. Assim, este ensaio mostra como Rosa, através da linguagem e de passagens do romance, constitui a evolução do seu personagem. E como a Metafísica perpassa toda a obra, indo de encontro a várias teorias e filosofias espirituais através das falas e atos dos personagens.
O presente trabalho procura analisar a travessia empreendida por Riobaldo, no romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, em busca de sua verdadeira identidade. Tomou-se como foco principal somente a questão da transformação do personagem central ao longo da narrativa: do menino em jagunço, de Tatarana em Urutu-Branco e do Chefe em fazendeiro. Como ponto de partida, buscou-se analisar a construção da obra como autobiografia e a função da oralidade como forma narrativa. Como suporte ao relato em primeira pessoa e sua parcialidade do ponto de vista narrativo, buscou-se fazer um panorama do funcionamento e da funcionalidade da memória no processo de construção da identidade de um indivíduo. Ao final, foi feito um cotejo entre as abordagens da memória apresentadas e análises críticas já realizadas sobre a obra, mostrando a transformação de Riobaldo e sua travessia interior.
Este artigo pretende mostrar como o tema da viagem está presente tanto na história quanto na literatura de maneira fundamental para o desenvolvimento, descoberta e aprendizado do mundo e do homem. Na literatura, especialmente, apresentaremos como a viagem é primordial para Guimarães Rosa, tanto na pesquisa de campo quanto como tema de narrativas nas quais ela atua como agente modificador das personagens e elemento desencadeador de mudanças.
O trabalho apresenta os primeiros resultados da pesquisa de doutorado em andamento na PUC Minas que busca investigar parte dos arquétipos, mitos e metáforas da Bíblia que podem ser encontrados em Grande sertão: veredas. Segundo Northrop Frye (2004), a Bíblia, com sua imensa quantidade de mitos, arquétipos e metáforas, se constituiu um "universo mitológico" que serviu de inspiração para toda a literatura ocidental, no qual consciente ou inconscientemente escritores têm buscado e reproduzido em suas composições literárias. Para Jung (2000), os arquétipos se definem como expressões do inconsciente coletivo da humanidade que repetem e representam experiências de tempo imemoriais. Essas formas podem ser encontradas nos mitos da cultura coletiva e são buscados e reatualizados, segundo Mirceia Eliade (1972) e também Nietzsche (2012), em seu conceito do “Eterno retorno”. Considerando essas características fundamentais propomos a releitura de dois episódios emblemáticos de Grande sertão: veredas: a travessia do rio com o menino na canoa, e a travessia do Liso do Sussuarão, buscando referências no arquétipo bíblico da travessia do povo hebreu pelo deserto para se alcançar a terra prometida, o qual metonimicamente poderia representar a travessia de toda a humanidade pelo deserto da provação para se alcançar o paraíso e seu criador. Esperou-se assim, enriquecer e lançar novas veredas interpretativas e reflexões, sobre o sertão que habita dentro de cada um de nós e a grande travessia da vida, tal como apresenta Guimarães Rosa.
Essa análise trata da travessia amorosa - e conflituosa – de Riobaldo entre Diadorim e Otacília. O mito de Lilith, a encarnação primeira do diabo feminino, está presente no triângulo amoroso em Grande Sertão: Veredas. E neste percurso, os personagens entram em outros personagens para construção de histórias dentro de outra história. Há uma analogia entre os mitos Adão e Lilith e Adão e Eva - conflito de um homem entre duas mulheres, sendo uma pactuada com o Diabo e outra celestial. No final, Riobaldo chega à salvação e à purificação.
Há leituras que impõem uma escrita, a leitura da obra de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, é uma delas. Partindo da tese de que a psicanálise pode realçar ainda mais a singularidade desta obra - tomando o trabalho intrínseco à própria análise, como comprovando, no real, o que é próprio do trabalho do significante, em sua dimensão de letra, na constituição de um sujeito cujo corpo se decanta de uma travessia -, é que tomamos o texto de Guimarães no que ilustra e expõe na travessia de Riobaldo o que testemunhamos, ou vislumbramos, a cada análise.