Este artigo busca situar o jornalismo literário enquanto disciplina de saberes complexos e transdisciplinares, necessária à formação de todo jornalista. Busca entender e integrar a prática da narração aos problemas dos níveis de realidade. Os conceitos de literatura de complexidade e de transdisciplinaridade servem de base à nossa reflexão. Com o conto “Com o vaqueiro Mariano”, trazemos a literatura de João Guimarães Rosa e suas relações com os saberes jornalísticos, desde a noção de entrevista, passando pelo sistema de produção e circulação da informação até as técnicas de apuração que o autor empregava. Por fim, concluímos que o jornalismo literário permite não só situar o jornalismo no circuito da comunicação, mas também, e de forma ampliada, estender o circuito da comunicação à sua dimensão cultural, em seu papel pedagógico relevante para qualquer área do conhecimento.
O objetivo do texto é apresentar os indícios que sugerem que a prosa e a poética de G. Rosa beberam de um universo cultural no qual a demarcação moderna ainda não se fizera presente. Para tal intento, vale-se tanto de textos do próprio Guimarães Rosa como de seus comentadores. Constata-se que a cosmovisão do sertanejo, locus da inspiração rosiana, era demarcada mais por processos de um Brasil próximo ao medieval ou afro-ameríndio – e cuja visão de mundo era mais orgânica, processual – do que pela visão moderna que emerge no século VII e seguintes, na Europa. Tal visão alcança mais rapidamente o Brasil litorâneo (ou os poucos espaços urbanos do interior) do que o sertão retratado por Rosa. Neste irá ainda predominar, em pleno século XX, uma cosmovisão em que não se demarca o ser ou a realidade, e não estão presentes as dualidades típicas do pensamento ocidental moderno: homem e natureza (ou natureza e cultura), deus e diabo...Conclui-se indicando que crenças incompatíveis no contexto moderno estavam misturadas, compostas na cosmovisão sertaneja e que Rosa as capta em sua prosa. Em sua cosmovisão, até rios possuíam para além de duas margens.
O ensaio procura flagrar o surgimento de um segundo “momento de escritura” na obra Guimarães Rosa, delineado por um conjunto de textos publicados em periódicos entre Sagarana (1946) e os livros de 1956, Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas. A partir da análise de uma importante carta do autor e de um dos textos síntese do período, “Com o Vaqueiro Mariano”, procuramos compreender as linhas de força de uma nova inflexão da literatura rosiana caracterizada pelo combate aos problemas da “deficiência representativa” imanente ao contexto literário brasileiro e internacional e pela constituição progressiva de uma voz narrativa em primeira pessoa marcada pela dificuldade de narrar e por uma postura de adesão à sua matéria que, adquirindo concretude nos textos, precisa ser pensada em termos de alcance estético-ideológico.