Este texto analisa, com base nos pressupostos teórico-metodológicos da semiótica tensiva, o conto “Pirlimpsiquice”, de João Guimarães Rosa, com o objetivo de verificar o modo como o conceito de acontecimento, estabelecido por Claude Zilberberg, manifesta-se no texto tanto no nível da enunciação quanto no nível do enunciado. Nosso objetivo é observar o modo como se dá fusão do uno e do múltiplo no texto por meio da análise da forma como o narrador, no presente, rememora um acontecimento passado vivenciado por ele quando ainda menino juntamente com seus colegas de internato. Nessa história, o menino e seus colegas, após deslizar para o imaginário, para a fantasia, acontecimento que se dá com a encenação de uma peça no colégio interno, retorna para a sua rotina. Tal trama do texto enunciado constitui-se, por sua vez, como um outro acontecimento, o acontecimento mitopoético que é o próprio conto, relatado no presente da enunciação pelo narrador.
Reflexão sobre a leveza irônica e a complexidade narrativa com que Guimarães Rosa corrige, em alguns contos de Primeiras estórias e de Tutaméia, leituras preconceituosas que não conseguem ver o outro na sua diferença.
O presente artigo problematiza por meio da análise a intervenção do fantástico no conto “Pirlimpsiquice”, que integra a obra Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Ao centralizar o episódio extraordinário da realização de uma peça teatral por um grupo de meninos de um Colégio de padres, a narrativa tematiza a palavra infantil como elemento transformador da realidade. A partir de proposições de Chaves (1978), Rosset (1998), Mello (2000), Jenny (1979) e Nitrini (2000), a discussão aborda o estabelecimento do duplo e a intertertextualidade no universo narrado, como recursos para a concretização do fantástico. A investigação indica que, no conto em análise, o faz-de-conta infantil funde-se ao faz-de-conta teatral e a representação assume o lugar do representado, estabelecendo uma tensão entre o imaginado e o real. Por sua condição imprevisível e inacabada, a nova realidade instaurada pela palavra infantil coincide com o viver verdadeiro, revelando o “transviver” protagonizado pelas personagens.
A proposta deste trabalho é analisar o tema da viagem no livro Primeiras estórias (1972) de Guimarães Rosa, mais especificamente, nos contos “Pirlimpsiquice”, “Partida do audaz navegante” e “Nenhum, nenhuma”. As versões da peça em "Pirlimpsiquice", bem como as novas modificações da personagem Brejeirinha para a história do audaz navegante, fazem parte da viagem ao mundo da invenção e da liberdade de criação. Em “Nenhum, nenhuma”, o enigma dessa viagem consiste em não se poder precisar se o espaço descrito corresponde a um local visitado pelo Menino ou a visões de um sonho do narrador adulto que tenta unir fios do passado e emoldurar a essência do tempo. O imaginário da criança é descortinado ao criar histórias e a viagem torna-se o adentramento nesse universo infantil. As reflexões estão apoiadas em estudos do narrador e mantêm diálogos com ensaios críticos sobre a obra de Guimarães Rosa.
Este texto pretende detectar no conto Pirlimpsiquice, de Guimarães Rosa, mecanismos subjacentes à narrativa que sustentam a leitura crítica do autor, contrastando vários aspectos de um mundo adulto e de um mundo infantil. Nesse sentido, é possível deduzir que, recusando o modo de ser dos adultos, as crianças agem de uma maneira particular, criando um mundo espontâneo, marcado pela liberdade, alegria e criatividade.
“Pirlimpsiquice” é um conto de Guimarães Rosa que narra a descrevivência de um grupo de meninos ao encenar uma peça que, por meio de uma improvisação, subitamente vira outra. “Descreviver” é palavra inventada por Rosa para simbolizar o ato de representar teatralmente, com espontaneidade. Em A Atualidade do Belo: a arte como jogo, símbolo e festa (1985), Hans Georg Gadamer investiga o fenômeno do jogo como explicação da arte, referindo-se, sobremaneira, ao teatro. Entre a arte como jogo, explicitada por Gadamer, e o jogo da arte, poetizado por Rosa, há paralelos evidentes que podem inspirar atores e autores brincantes. Neste cenário, o termo “descreviver” fornece o palco para a reflexão.
Este artigo foi desenvolvido de um fragmento da tese Das estradas e dos desvios: o Curso de Especialização em Arte/Educação da ECA/USP (1984-2001) e a formação do professor de arte, defendida em 2017, pelo PPGAV da ECA/USP. Amparado pelos conceitos de experiência estética de John Dewey, de imaginação criadora de Regina Machado e do papel da narrativa na coletividade por Walter Benjamin, procuro expor, em linhas gerais, a importância da construção narrativa a partir da consumação de uma experiência singular como processo de auto-reflexão que ampare a conscientização da atividade docente, servindo-me de uma vivência particular a partir de um conto de João Guimarães Rosa. Originalmente, o estudo incide sobre a formação de arte/educadores, contudo, é possível ampliar o foco para pensarmos sobre a formação de professores em geral, como também dos indivíduos que compõem a sociedade contemporânea.
Este ensaio busca trabalhar o elemento teatral na obra de Guimarães Rosa, entendendo-o como processo de representação do real por meio de sua transformação em texto/discurso, e como processo de carnavalização pela abolição da hierarquia e multiplicação das versões.
Este trabalho discute aspectos da constituição e dos efeitos do discurso literário sobre a literatura, a arte ficcional, dando visibilidade ao modo como o próprio artista, no caso, Guimarães Rosa, reflete sobre a literatura que inventa e o processo que a torna material e socialmente presentificada, procedimento que indicia o modo como esse autor interroga a própria arte. Esse procedimento, no caso de Guimarães Rosa, permite dizer que sua arte não corresponde jamais à expressão contida e ordenadora de uma realidade exterior, mas à expressão de uma interrogação da relação entre essa realidade e o sujeito no mundo. Essa discussão ganha corpo ao longo de um exercício analítico do conto "Pirlimpsiquice", integrante da obra Primeiras estórias.
O presente trabalho tem por objetivo uma leitura do conto “Pirlimpsiquice”, de Guimarães Rosa. A partir do conto em questão, exploraremos os conceitos de Entre-Lugar, Multiculturalismo, Transculturação e Transculturação Narrativa, que perpassam o texto de Guimarães. Assim, sob essa perspectiva, buscaremos perceber e compreender alguns modos através dos quais o autor encena literariamente embates típicos em torno das questões relativas à identidade cultural.
Mais do que um grande contista, João Guimarães Rosa foi também um grande contador de histórias. Segundo Antonio Candido, Guimarães Rosa tinha "paixão de contar". O autor de Grande Sertão: Veredas, portanto, retorna, em grande estilo, segundo Candido, à concepção do contista-contador. Ao debruçarmos sobre o conto "Pirlimpsiquice", de Primeiras Estórias, observaremos de que forma João Guimarães Rosa revela-se não apenas como um grande contista, mas também como um grande contador de estórias.
Investiga-se como narradores e personagens de três contos de Primeiras estórias (“O espelho”, “Pirlimpsiquice” e “Darandina”), de João Guimarães Rosa, utilizam a cultura clássica. O corpus examinado aponta para duas formas distintas: uma subserviente, quiçá rígida, e o mais das vezes explícita, geralmente indicativa de uma postura política e moral conservadora, outra, mais livre e solta e muitas vezes implícita.