Análise do conto “Fatalidade”, de Primeiras Estórias, centrada nas referências implícitas e explícitas à cultura grega, desde intertextos com Homero até a reverberação de passagens dos diálogos platônicos. A recepção do universo clássico no conto trabalha com o topos da determinação humana e divina sobre o destino e vale-se da dicotomia entre a ordem física (physis) e o estabelecimento das leis (nomoi).
Este artigo tem como objetivo refletir sobre a presença do trágico em Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, colocando-o como uma espécie de “aclimatação” trágica no sertão dos gerais. Para isso, abordaremos os “ecos” do drama antigo a partir do destino/ necessidade (Anánke) e violência (Bía), relacionando-os aos conflitos do sertão. A análise dar-se-á em “Fatalidade”, nono conto de Primeiras estórias. Nesse sentido, este texto tem como parâmetro o caráter universal, em que convergem para as estórias primeiras, o qual é possível encontrar-se nos mitos e narrativas literárias antigas, convivendo pelo sertão, em um estado de simplicidade, mas ao mesmo tempo capaz de emergir da riqueza em relação à importância das “estórias” que se perfazem no lugar.
O presente ensaio tem como objetivo abordar a temática da violência no conto “Fatalidade”, de João Guimarães Rosa, sobretudo a partir das relações entre sertanejos que estão imersos em um ambiente inóspito de perseguição, guerra e crueldade. “Fatalidade” é um dos vinte e um contos que preenche o livro Primeiras Estórias, de 1962, compartilhando temas comuns no conjunto da obra de Rosa, na qual a crueldade no Sertão é uma das claves importantes para compreender a existência de um lugar em que o sujeito vive em total clima de insegurança. Dessa forma, os valores do sertanejo-jagunço nas narrativas do autor mineiro ultrapassam qualquer explicação de moralidade que se perfaz na cidade, isto é, que tem como base as leis e suas normas. Portanto, no conto prevalece sempre o mais forte, aquele que apresenta a maior força física, assim como astúcia diante das conturbadas relações sociais no Sertão.
Neste estudo encontramos usos de derivação prefixal, sufixal e composição na construção de neologismos presentes no conto Fatalidade, de Guimarães Rosa. Descobrimos dez ocorrências consideradas neológicas e exploramos os processos de formação de cada uma delas. Em relação aos procedimentos metodológicos, atenta-se para: i) levantamento de palavras que possam ser neológicas ainda não prescritas em dicionários socialmente reconhecidos; ii) descrição e classificação dos neologismos e análise do contexto em que se encontra. Como suporte teórico, estudos elaborados por autores como Alves (2004), Kehdi (1992) e Rocha (1998) para definições acerca dos neologismos e estruturas morfológicas do português e, sobre a literatura de Guimarães Rosa, utilizamos Carvalho (1984) e Brait (1982).
Neste trabalho, investigaremos como a morte, considerada um momento limítrofe para a existência humana, é configurada na narrativa Fatalidade, presente no volume de Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa. Utilizamos a semiótica discursiva, uma teoria e metodologia erigida na década de 1960 por Greimas e outros semioticistas mais contemporâneos, tais como Claude Zilberberg, quem desenvolve os conceitos de intensidade e extensidade. Esses funtivos se mostraram úteis para a compreensão de como os atores se relacionam com a noção de fatalidade. Notamos que, no curto espaço de tempo em que os atores se relacionavam com a espera da morte, a extensidade e a intensidade se faziam presentes; a morte, enquanto objeto, mantém relações com o estado de alma dos atores.
Nesse artigo iremos analisar o conto “Fatalidade” do livro, “Primeiras Estórias”, publicado pela editora José Olympio no ano de 1962 de João Guimarães Rosa (1908-1967), cujo enredo se passa na vida caipira, e a temática é a tragédia como o título do conto já nos diz. Essa análise baseia-se nos autores Regina Zilberman (1989) e Hans Robert Jauss (1994) e suas respectivas teorias sobre a história da literatura e a recepção crítica literária. Com o objetivo de realizar uma leitura mais aprofundada das características abordadas na vida no sertão, como sabemos a valorização do mundo sertanejo é ponto forte nas obras roseanas, mais especificamente a violência no sertão. A justiça é realizada sem nenhum pudor pelos personagens, e até que ponto pode-se considerar justo o ápice ou a fatalidade em questão no conto. Visando a inserção do leitor não apenas como passivo, mas como ativo na leitura, na compreensão e na recepção do conto com base nos autores já citados, assim tornando o leitor o principal elo do processo literário.
Tem este texto a intenção de discutir em que medida ocorre a representação dos monstros e das monstruosidades como construção discursiva no filme A Terceira Margem do Rio (1994), de Nelson Pereira dos Santos, que reúne, num só corpo, seis das Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, Sequência, Fatalidade, A menina de lá , As margens da alegria e Os Irmãos Dagobé.
Em Primeiras estórias, "Os Irmãos Dagobé" e "Fatalidade" podem ser lidas superficialmente como paródias de bangue-bangue em que os atores não correspondem aos estereótipos do gênero. No entan- to, as marcas da identidade cultural do sertão bravo, tipo faroeste ame- ricano, constituem, sobretudo, o cenário útil para nele enquadrar a di- nâmica espiritual que Rosa frisava como característica da coletânea. Em ambas as estórias, o narrador oculta essa dinâmica: posicionando- se como porta-voz de uma gente ?fatalista?, resignada a sofrer os des- mandos dos valentões em ?Os Irmãos Dagobé?; adoptando, em ?Fatalidade?, a tônica humorística de uma testemunha que se distancia em relação aos acontecimentos relatados, fazendo de conta que não enten- de em que consiste o ?fatalismo? do delegado protagonista. O discurso desses dois narradores, ao mesmo tempo, solicita a perspicácia do leitor ? através da onomástica, das falas dos personagens, dos enigmas lingüísticos colocados na narração ? apontando para um conteúdo oculto a ser revelado. Assim, partindo de causos que questionam a justiça e as leis humanas, ?Os Irmãos Dagobé? e ?Fatalidade?, funcionam como parábolas que convidam a refletir, em particular, sobre a problemática do livre arbítrio e da graça divina, na exploração da terceira margem do Ser Tão, ali onde o cristianismo encontra as fontes greco-orientais da Philosophia Perennis.
Este ensaio tem como objetivo analisar as formas como Guimarães Rosa representas as relações sociais em Primeiras Estórias, através do uso de técnicas orais de composição narrativa. Utilizando narradores que experimentam aquilo que narram, na perspectiva de Walter Benjamim, ele descreve o inesperado que ocorre no cotidiano, da realidade sertaneja. As análises se deterá nas mudanças apresentadas em três em relações tradicionais do sertão: a mobilidade social, a violência como modo der resolver os problemas e a exploração da força de trabalho. Ao optar por representar essas mudanças, Guimarães Rosa discute, mesmo sem o propósito intencional, a história contemporânea.