Este ensaio tem como objetivo refletir sobre a narrativa “A benfazeja”, de João Guimarães Rosa, colocando-se como ponto de convergência entre a personagem Mula-Marmela e as manifestações trágicas no Sertão, colocando-se como “aclimatação” a partir de diversos elementos, como o destino, a desmesura e a catarse. “A benfazeja” dialoga com a universal dimensão humana presente nos dramas gregos, sobretudo no que tange às escolhas e à relação com a comunidade, em um movimento que redimensiona as “estórias” gregas no cotidiano sertanejo.
Este artigo tem como objetivo refletir sobre a presença do trágico em Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, colocando-o como uma espécie de “aclimatação” trágica no sertão dos gerais. Para isso, abordaremos os “ecos” do drama antigo a partir do destino/ necessidade (Anánke) e violência (Bía), relacionando-os aos conflitos do sertão. A análise dar-se-á em “Fatalidade”, nono conto de Primeiras estórias. Nesse sentido, este texto tem como parâmetro o caráter universal, em que convergem para as estórias primeiras, o qual é possível encontrar-se nos mitos e narrativas literárias antigas, convivendo pelo sertão, em um estado de simplicidade, mas ao mesmo tempo capaz de emergir da riqueza em relação à importância das “estórias” que se perfazem no lugar.
Este estudo objetiva demonstrar que o conto “A benfazeja”, de Guimarães Rosa, é
uma retomada do mito das “Erínias/Eumênides”, tal como este aparece registrado na trilogia
Oréstia, de Ésquilo. Adaptando o mito de acordo com a realidade do sertão, o escritor mineiro,
ao figurar sua protagonista (Mula-Marmela), dá vida a uma personagem que mantém na
essência as características peculiares das antigas titulares do panteão helênico.